Meg Ryan é uma cinderela exposta ao ridículo no novo filme de Jane Campion,
In the Cut. Ryan faz uma professora de inglês que anseia pelo príncipe encantado, pelo homem que irá tocá-la nos sítios certos, mas que só consegue ir para a cama depois de demonizar o seu parceiro. Coisa fácil, uma vez que no filme de Campion os homens são igualmente patéticos, sem excepção: há um aluno de Frannie/ Ryan, um “nêgão” de bíceps transbordantes e, seguramente, com um enorme pénis (não é sra. Campion?!), obcecado por
serial-killers que deseja “papar” a professora; há ainda um ex-namorado, um pinga-amor obsessivo-compulsivo, que apanha o cocó do seu lulú com luvas de látex esterilizado; e há, por último, o detective Malloy (interpretado por Mark Ruffalo) que apesar da bigodaça não consegue esconder o facto de se assemelhar a um irmão mais novo (um filho?) da balzaquiana Ryan.
In the Cut pretende-se um thriller erótico, embora resulte entediante e não excitante. O único prazer verdadeiro que para mim existiu (além de reconfirmar como são bonitos os pés de Meg Ryan!), foi o de ver Jennifer Jason Leigh degolada do seu eterno ar de sonsa. Pauline/ Leigh é a meia-irmã de Frannie, só que o à-vontade e a languidez entre as duas remete mais para um casal de velhas amantes que ainda se veste em feiras
hippies, fuma charros e não sabe o rumo que a música tomou depois dos 70’s. Pelas conversas das duas manas passam alguns enunciados bacocos da condição feminista condenada, quer ao onanismo, quer à promiscuidade – nada ao acaso, Leigh habita um imóvel folclórico onde funciona
non-stop um clube de
strip. Aliás, cuidado homens, muito cuidado! A tese de Jane Campion aponta para a existência, no interior de uma mulher sexualmente reprimida, de uma lésbica com instintos justiceiros. Já vimos isto em muitas outras ocasiões, só que a variante, no caso, é a de que a justiceira em causa, apresenta-se nas mais das vezes, qual cinderela, parcialmente ou totalmente descalça – e com uma tendência, também, para ser alvo de atropelamento. E, finalmente, nas palavras do detective Malloy, Frannie tem ainda a particularidade, pelo modo como o seu clítoris reage ao toque masculino, de se incluir naquela categoria de mulheres que sabem tudo sobre o sexo. Vocês sabem, intelectuais e assim.