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segunda-feira, maio 31, 2004

Machos e latinos

Convenhamos: «The Ride», disco acabado de lançar pelos Los Lobos, é muito superior a qualquer das últimas investidas altamente rentáveis de Carlos Santana. A grande diferença não está na estratégia. Tão pouco nas sonoridades dominantes. Está no material gravado e, sobretudo, nos convidados. Nem todos latinos, embora todos muito machos. De culto. Elvis Costello, Tom Waits, Richard Thompson (o melhor guitarrista rhythm’n’blues que jamais ouvi, e um dos grandes songwritters em língua inglesa). E também Bobby Womack, Dave Alvin e Little Willie G. Históricos que seguramente não darão azo ao florescimento do negócio das cadeiras de rodas motorizadas. Esta malta ainda tem coisas para dar à música, embora vá espaçando em muito as suas colaborações por uma questão de critério pessoal (imagino). Os Los Lobos conseguiram pôr o pessoal todo a uivar, apesar de só Waits o fazer de facto. Mérito deles que conseguiram pelo caminho gravar também um disco simples, directo, imediato. Coisa de homens com uma ou outra participação feminina (Mavis Staples, que voz!) para disfarçar o tom pedestre da cavalgada.

Un heterosexual también puede ser maricón

Mais importante do que escalpelizar as implicações autobiográficas do novo filme de Pedro Almodóvar, deixemo-nos impregnar antes pelos sentimentos febris, pela brilhante arquitectura do argumento (a história dentro da história dentro da história), pelas personagens tão garridas quanto os cenários por onde as mesmas se movimentam, pelo adorável kitsch “maricón”: eu, incurável heterossexual, gosto de me sentir “maricón” quando vejo filmes de Almodóvar. E pelo amor total que a câmara de Almodóvar verte sobre todos estes elementos, que é o amor a uma arte total como o cinema. A Má Educação é um filme que fica connosco depois de o termos visto. É um filme que nos persegue com a sua estrutura labiríntica e o seu romantismo desencantado. Almodóvar é o mais original dos cineastas contemporâneos a recuperar o melodrama reconvertido a uma galeria de personagens cada vez mais familiares. E este Almodóvar maduro, mais trágico e pessimista é um cineasta ainda mais fulgurante. Um homem que habita o filmes que faz, apaixonadamente.

Do bacalhau à blogosfera

A televisão mostra um anúncio novo ao bacalhau Ribeiralves que mostra a protagonista Alexandra Lencastre - que se substitui ao bacalhau - filmada em plano aproximado de esputação. O peito exposto de Alexandra remeteu-me para um determinado texto (que já foi post) agora presente no livro «Fora do Mund o – textos da blogosfera», do meu amigo Pedro Mexia, apresentado no final da tarde desse mesmo dia em sessão animada que contou com as intervenções apaixonada, de Pedro Lomba, e desconcertante, de Abel Barros Baptista. O Pedro também se fartou de ler excertos do livro que suscitaram gargalhadas sonoras à vasta plateia. Falou-se, afinal, mais de escrita do que de blogues. Cortou-se na casaca de alguns rabiscadores da pátria. Um triunfo na medida certa para o Pedro que é exemplo de escrita superior independentemente do suporte a que a mesma se destina. Muitos outros, como eu, limitar-se-ão a exercícios, como este, que só têm lugar nas divisões de honra do campeonato blogosférico. Parabéns, Pedro!

Um post destinado a apagar da memória o filme «O Despertar da Mente»

Desta vez resisti na sala apenas 60 minutos. Prometo nunca mais ver um filme escrito pelo senhor Charlie Kaufman («Being John Malkovich», «Adaptation»). Para o peditório da histeria nerd super-realista, no more Mr. Nice Guy.
Instrução: delete. Enter.

sexta-feira, maio 28, 2004

Hambúrgueres e refrigerantes

A crónica que se segue foi a última que hoje li. Tal como todas as outras, deixou-me a falar sozinho e para dentro... “waauugghh!”. Leiam-na e aproveitem o fim-de-semana até às melhores consequências. De preferência o mais afastado possível dos corantes e conservantes do Rock in Rio em Lisboa.

Lennon’s Death Explained
«My note on the dreaded Beatles Reunion next month prompts one correspondent to ask why there has never been a full inquiry into the circumstances of John Lennon’s death, as there has been into every detail of the shooting of John Kennedy. Lennon was just as famous as the American politician – he once said the Beatles were more popular than Jesus – and his death was every bit as important. Can anyone seriously believe it was the unaided work of a deranged man?
Where Kennedy’s assassination is concerned, the conspiracy theory has become a major industry, but I would be surprised if there was anything in it. Much may be made of the fact that Lee Harvey Oswald once visited the Soviet Embassy in Mexico City. I once visited the Soviet Embassy in Manila, being taken there by my taxi driver in mistake for the British Embassy residence. The Soviet Embassy was holding a reception for the Red Cross, and it was half an hour before I realized my mistake.
There is no need for any conspiracy to explain Oswald’s behaviour. The most significant fact about him, which is only seldom mentioned in books on the subject, and never given due weight, is that he lived exclusively on a diet of hamburgers and soft drinks.
Of course the man was deranged. The only surprising thing is that he managed to shoot straight through all the gases swirling around him. Where Lennon’s assassin, Mark Chapman, is concerned, I would not be in the least bit surprised to learn that he, too, subsisted on hamburgers and sweet fizzy drinks.
To those who object it is inconceivable that two deranged hamburger eaters would be able to hit their targets within a space of 17 years, I would point that Chapman was standing much closer to his target than Oswald was. Furthermore, I would not be surprised to learn that Chapman, the deranged CIA operative, had, in fact, missed. His victim, Lennon, also a hamburger and fizzy drink man, expired on the spot, out of fright and inner corrosion.»
(26 January 1994)
Auberon Waugh, "Closing the Circle – The Best of Way of the World"

Será que o filme é também assim?

Acontecer-me ouvir a banda-sonora de um filme antes mesmo de o ver é facto raro. Aconteceu esta semana com a música de Eternal Sunshine of the Spotless Mind, a comprovar nos próximos dias até que ponto resiste à ausência das imagens do filme de Michel Gondry, depois de as havermos visto? A questão por ora está resolvida, e a banda-sonora recomenda-se. Aqui há um pouco de tudo como nos bazares chineses: no meio de uma série de peças incidentais – muito Sparklehorse – da autoria de Jon Brion (Aimee Mann, Fiona Apple, Brad Mehldau) ouvem-se os solarengos e psicadélicos E.L.O. e Polyphonic Spree; a indiana (?) Lata Mangeshkar que mais não é do que trivial cantoria que serve de ambiente a todo o tipo de restaurantes indianos; os proto-punk The Willowz (que nunca ouvi mais afinados), o jazz poeirento de Don Nelson (outro completo desconhecido, pelo menos, para mim); a surpresa de descobrirmos Beck numa versão fiel e verdadeira do oceânico e pacífico «Everybody’s Gotta Learn Sometimes» (bem bonita, sim senhor) e a misturada fica-se por um resultado que supera o nível somado das partes descascadas.
As primeiras audições deixaram-me assim para o indiferente, mas a carilada toma cada vez mais gosto – não me perguntem é ao que sabe? E dá até certo jeito recorrermos à velha ladainha do poeta que fala de coisas estranhas que depois se entranham. Será que o filme é também assim? Será do tempero?

Obs. O post, reconheço!, ficou para o exótico. Na antecipação, talvez?, do jantar de logo mais que conto venha a ser indiano.

AVISO

Se não conseguirem leitura da página a toda a extensão da semana, por favor cliquem na entrada mais recente dos arquivos. Experimentei e resulta. Obrigado.

Alt-rock (o que uma pessoa tem de aturar...)

Retirado da folha informativa Nº177 regular, mas não exaustiva, das novidades da Ananana.
«é a lei das compensações.
o livro, esse estandarte da alta cultura,
tem a pequena parcela dos 5% do iva,
mas, minhas senhoras e meus senhores...
o que é que arrasta multidões?
o que faz directos tv de horas pela noite dentro?
o que faz sair, em euforia, milhões de pessoas à rua?
como se consegue todas as capas dos jornais?
como se consegue esquecer o que interessa neste país?
pois é: é o futebol, é o porto... foi o mourinho.
imaginem o lançamento de um grande livro ter o entusiasmo popular da noite de quarta.
imaginem o anúncio do nobel de saramago ter ajuntamentos nos aliados,
na rotunda do marquês de pombal, nas várias capitais de distrito
e nas colectividade de emigrantes em frança e na suíça.
o livro apenas tem uma feira, preço fix e iva baixo - uma injustiça social.
hoje começa outro arrastador de multidões,
a maior exportação do brasil desde os futebolistas, dentistas e telenovelas:
o rock in rio em lisboa.
a semana passada, na nossa loja,
três simpáticos senhores visitaram-nos
tentando convencer-nos a ter no balcão merchandising do festival.
dificilmente aceitaríamos o que quer que fosse,
mas... aquelas fitas de pôr à volta do pescoço...
para pendurar "a" chave do automóvel... isso é que não!
mas, a nossa célebre simpatia fez com que recusássemos a oferta com gentileza,
justificando a nossa marginalidade face às dezenas de propostas dos palcos do rock in rio.
e aqui é que houve um problema: tanto as duas senhoras portuguesas,
como o senhor brasileiro (convém manter a identidade do rock in rio em todas as ocasiões),
não perceberam que raio de música teríamos ali para legitimar a nossa postura.
falámos que eram discos para uma minoria,
outros estilos de música com canais próprios de difusão, exibição e comercialização...
mas, nada... não percebiam.
no final, apenas confessavam, incrédulos: "música é música".
tentaram o 'touché' com... "e isto que está a dar? não é música?".
sim, magnetic fields é música, mas não estão no rock in rio em lisboa.
nem o nosso hip hop, nem a nossa electrónica (ter djs não é ter electrónica!),
nem o nosso experimental, nem o nosso jazz, nem a nossa contemporânea,...
começamos hoje a travessia por entre isto tudo,
mas dentro de um mês já está tudo acabado.
mesmo a tempo das férias.»
BOAS FÉRIAS, PEDRO!

Rock in ridículo

A TVI fez uma reportagem sobre o Rock in Rio em Lisboa no jornal do início da tarde. Como lhe compete, na qualidade de estação não oficial do super-evento, optou por entrevistar algumas matronas que integravam uma comissão de moradores daquelas bandas indignadas com a confusão e o barulho que o festival irá trazer à pacatez do seu fim-de-semana. Indignadas com Pedro Santana Lopes, que ora era apelidado de Presidente da República, ora era chamado de Presidente da Câmara. Lapso sintomático de mais uma grande piroseira jornalística do mais inenarrável dos canais portugueses. Dizia por último a "chefa" da comitiva, qualquer coisa como "... no tempo do Salazar isto não era assim!" Mas a SIC Notícias pouco melhor fez. O pivot que reportava do ensaio de som e que usava a palavra privilegiado a torto e ao comprido, a dada altura esmerou-se ao destacar a actuação de Rão “Quião” na Tenda do Mundo. Depois foi a vez do pivot feminino entrevistar uma brasileira burra, burra, burra, mil vezes burra, muito excitada como convém à imagem da equipa de produção desta mega-chinfrineira, que era maravilhoso para cá maravilhoso para lá, ai (!) e a limusina do Paul McCartney que é branca e tem dez metros de comprimento (deve ser proporcional ao tamanho do p.........., estão a ver?) e que se abanava toda na frente da câmara, supostamente ao som do ensaio dos 1 Giant Leap. Eu, no Rock in Rio em Lisboa, só irei morto cortado às postas. E mesmo assim, algumas delas ainda conseguirão evadir-se deste pesadelo.

quinta-feira, maio 27, 2004

Sair em falso (um case-study)

Mais do que a redundante e ultrapassada edição de luxo do bloco de apontamentos de José Mourinho, o que realmente faria as delícias de qualquer adepto de futebol era que o Zé desse com os costados no divã do prof. Carlos Amaral Dias para uma psicanálise prolongada que deixaria para a posteridade as razões por detrás daquela falsa modéstia misturada com uma não menos atabalhoada arrogância. O lado obscuro de um grande treinador de futebol - que é um mau actor das suas próprias encenações - com edição hiper-mediatizada na Feira do Livro de 200... Como diria o Jaquinzinhos, we "Chelsea..."

Short and sweet

Uma crónica de Auberon Waugh por dia… AJUDA.

Not to be Trusted
«There is a terrible sermon for our times in the story of the religious education master in a Bristol secondary school who was always cadging sweets from his pupils.
To teach the scrounger a lesson, they arranged for a 16-year-old girl to give him a Fruit Pastille spiked with LSD. The bearded, 46-year-old teacher began hallucinating, dropping books, clinging to walls and asking for help. He was taken to hospital and made to eat charcoal, which is apparently the best cure for LSD poisoning.
With the huge amounts of pocket money they are given nowadays, schoolchildren can easily afford to keep their teachers in Fruit Pastilles if they wish, but that is not the point. They can also afford to poison them. In modern Britain, middle-aged men must learn not to accept sweets from schoolgirls. It is as simple as that.»
(8 September 1993)

TUDO AZUL

Hoje não se trabalha na Invicta: eles pensam só em tocar no "caneco". O futebol está em todo o lado. O Futebol Clube do Porto está em todo o lado.

quarta-feira, maio 26, 2004

Fina estampa

Omara Portuondo tem um disco novo. A velha senhora revelada a nós pela iniciativa Buena Vista Social Club gravou um segundo disco na World Circuit, procurando discretamente trazer alguma surpresa. Se não foi ela a procurá-lo, fizeram-no por ela os produtores Nick Gold e Jerry Boys (hipótese que tem mais cabimento). Em que consiste então a tal discreta surpresa? Muito simplesmente no convite para a produção de 5 das 14 faixas de «Flor de Amor» que trouxe a bordo o brasileiro Alê Siqueira - parte integrante do sucesso dos Tribalistas, e que já havia colaborado com Caetano Veloso e Carlinhos Brown – que empresta ao mesmo «Flor de Amor» um travo exótico sensível logo à primeira canção, «Tabú». Com Alê Siqueira vieram também alguns músicos do Brasil de valor reconhecido (Toninho Ferragutti, Marcos Suzano) que se juntaram aos congéneres cubanos num colectivo de excelência que compreende várias gerações. «Flor de Amor» é assim um disco ainda fortemente cubano, com a marca tradicional do Buena Vista Social Club, mas também com um equivalente de heterodoxia que já caracterizava a direcção musical de Ry Cooder nos primórdios desta aventura. É para dizer a verdade um disco sem outras surpresas que não as factuais (atrás referidas). De indiscutível bom gosto, é claro, com Omara Portuondo em forma no seu estilar discreto, embora elevada cada vez mais à condição de Diva suportada por um generoso coro de vozes femininas, a procurar novos públicos em territórios onde já entraram, por exemplo, Susana Baca e Lhasa de Sela, que entrega os boleros e o son cubano com o luxo da serenidade de quem conhece estas músicas desde sempre, suportando também a contaminação brasileira das suas raízes e fechando com um tema encomendado a Carlinhos Brown (resulta? ainda não estou certo disso) que Omara canta escorregando entre as línguas espanhola e portuguesa. As liberdades de «Flor de Amor» encontramo-las nos pormenores. Ouvidos menos exigentes deixar-se-ão embalar por aquilo que tem a ver com o reconhecimento dos méritos presentes no disco anterior. A estampa era já fina, limitaram-se a tingi-la com doses mínimas de verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e carvão.

O maior espectáculo na Terra

Madonna traz a sua Re-Invention Tour ao Pavilhão Atlântico, a 12 de Setembro próximo. Logo no final das minhas férias. Planos... planos...

Apostar pelo seguro

Hipóteses fictícias da Selecção Nacional triunfar no Euro 2004? 20%
Hipóteses reais do Porto vencer (HOJE) a Liga dos Campeões? 50%
FORÇA, RAPAZIADA AZUL E BRANCA!

Como eu adoro o cheiro da Amazon pela manhã!

Devidamente celofanados e acondicionados em embalagem de cartão feita à medida, lá estavam os DVDs de «Maridos e Mulheres», seguramente o último grande filme de Woody Allen («Deconstructing Harry» veio depois e ficou-lhe apenas próximo) com um piscar de olho a um ensaio de Isaiah Berlin que desta vez prometo não deixar passar despercebido; mais a dose dupla de Clint Eastwood embora não assinada pelo maior actor/ realizador americano em actividade: os filmes em ca(u)sa são «In the Line of Fire», de Wolfgang “Tróia” Petersen e «Escape From Alcatraz», de Don Siegel, objectos perfeitos para o sublimar da minha orfandade congénita; há também essa preciosa peça de câmara (por vezes clara, por vezes escura) que é «Ice Storm», de Ang Lee, prodigiosamente escrito, realizado e interpretado; e last but not least numa caixa de três DVDs com um nunca por mim visto e incrível aproveitamento de espaço, a melhor série de TV de sempre, «The Singing Detective», que tem o insuperável Michael Gambon a fazer do insuperável Dennis Potter a fazer do detective Philip Marlow (sem “e”). Roam-se de inveja, é só.

terça-feira, maio 25, 2004

Tributo a um almoço muito agradável

Apropriadamente escolheu-se mais um “reserva” da garrafeira do grande Auberon Waugh. Como se de lá pudéssemos tirar qualquer outra coisa.

But Life Goes On
«Last week we learnt that the most beautiful house in Somerset – what Christopher Hussey described as the most beautiful sight in the world – has been sold. Brympton d’Evercy has gone to an unnamed English family who seem unlikely to open it to the public when redecoration is finished in a year’s time.
All of which strikes me as very good news. It is sad, of course, for the family which has owned it for the best part of 300 years, the Clive-Ponsonby-Fanes, who made a valiant effort to keep it going. But the even sadder truth was that it did not succeed as a showpiece: they had run out of money, the internal decorations were dreadful and they lacked the proper kit to make it look like anything more than a prep school on open day.
So now the most beautiful house in England will be a private family home once again. The historian A. L. Rowse once remarked to me that in the entire history of human civilisation, the most perfect form of existence was that of the English country house in the earlier years of this century.
Without its full supporting cast of indoor and outdoor servants it may be a shadow of its former self, but from my own observation I would guess that even this shadow provides the most agreeable form of life available on this planet.
Others may prefer lying on a Miami beach or watching satellite television on top of a skyscraper in Manhattan, but I would be surprised if there is any greater happiness than that provided by a game of croquet played on an English lawn through a summer’s afternoon, after a good luncheon and with the reasonable prospect of a good dinner ahead. There are not all that many things which the English do better than anyone else. It is encouraging to think we are still holding on to a few of them.»
(31 August 1992)

É tão bonito este texto, que não resisto a fazer nova citação da minha citação. Ora leiam uma outra vez: «... I would be surprised if there is any greater happiness than that provided by a game of croquet played on an English lawn through a summer’s afternoon, after a good luncheon and with the reasonable prospect of a good dinner ahead.» Grande, enorme Auberon Waugh!

segunda-feira, maio 24, 2004

L. Jackson vezes dois

Duas composições memoráveis de Samuel L. Jackson em filmes vistos no fim-de-semana: sexta-feira à noite, na SIC-Mulher, foi exibido A Febre da Selva, de Spike Lee, que se atravessaria na frente da minha progressão pela imprensa do dia. Realização que veio depois da obra-prima «Não Dês Bronca», Jungle Fever marcava igualmente o regresso aos discos de Stevie Wonder. Tem a escrita de diálogos brilhante de Lee, e a encenação totalmente descomplexada das cenas de sexo. Medianamente explícitas mas carregadas de intencionalidade. Topa-se que Lee é um gajo bem resolvido. Denota também ritmo, inteligência e sentido de humor (as damas devem-no achar irresistível). Muito bom filme, excelente realizador. E o prazer de um cast que faz-nos esbarrar constantemente com caras hoje ainda mais familiares. Samuel L. Jackson, há altura um desconhecido, tem um papel secundário que ecoa aspectos da vida de Marvin Gaye. É um junkie sem remédio que crava dinheiro à família dançando de forma cabotina e irresistível.
O segundo filme é o mal amado 187, baseado na experiência de ensino do argumentista Scott Yagemann. Realiza Kevin Reynolds com estilo visual e óptima banda-sonora (de Massive Attack a David Darling). Reynolds nunca mais faria coisa de jeito. Ficou-se por esta história de um professor tornado justiceiro filmada na altura em que surgia o bem mais esperançoso «Mentes Perigosas» com Michelle Pfeiffer. Podemos considerar 187 a versão sombria do filme de John N. Smith. Um objecto que parte dos tiques MTV para entrar por uma cruzada politicamente incorrecta tangencial à demência de «O Caçador», de Michael Cimino (referência explicitada). 187 seria um mero sucedâneo dos filmes de Charles Bronson não fosse a estilização económica de Reynolds e a composição heróica e sóbria de Samuel L. Jackson. Sem ele ficaríamos reféns de uma sopa indistinta que não nos mobilizaria peva.

A não perder

A exposição de Gerhard Richter no Museu do Chiado é extraordinária. Entrei em quase absoluto desconhecimento (se conhecer apenas o nome do pintor não for mesmo o desconhecimento total) e demorei a visita à hora suplementar destinada ao documentário sobre Richter - com sessões contínuas - na última sala reservada à exposição. A mostra não é extensa mas é completa - todas as fases representadas: há a pintura mais figurativa e a mais abstracta que a Madalena dividiu, respectivamente, entre momentos em que predominam o pensamento ou a emoção. Divisão que me parece justa e que pelo facto de perceber pouco de pintura me abstenho de aprofundar.
Um dos pontos de interesse do mesmo documentário é percebermos que a técnica de Richter e a sua grande produção resultam de trabalho constante e de enorme sentido de organização. A máquina por detrás do génio. Não percam de vista. (30 de Abril/ 27 de Junho)

Ballet dose

Em relação ao filme «A Companhia», de Robert Altman, visto este fim-de-semana, três coisinhas a reportar: Nice acting, fine dancing, (very) poor script.

sexta-feira, maio 21, 2004

Vulgo troçolho

Cheio de sono mas sem possibilidade de lavar a cara por causa da pomada que é suposta fazer desinchar o chalázio que timidamente intimida o simples facto de manter abertos os meus olhos.

Estou de volta há coisa de um quarto de hora


Até parece de propósito

Vou ali almoçar uma feijoada brasileira de Portugal e depois volto. Se for caso disso.

Eletro bossa, c’est (comme) ça!

Não é que eu já ouvi isto antes: ecos (échos) de Arto Lindsay, de Smoke City, de Stereolab, de Otto, de Zuco 103, o revisitar de clássicos maiores da MPB despidos ao esqueleto da electrónica, guitarras acústicas e eléctricas meticulosamente colocadas, crianças que cantam tal como a passarada livre dos trópicos, uma voz de Nara Leão, o mar de Ipanema a desaguar no centro de Paris, de Bruxelas, do mundo inteiro. Para quem se desloca de Metrô, esta rapaziada «déjà-vu» revela invulgares capacidades de causar surpresa e sedução. E também um conjunto de relações com o Brasil – Otto, Wally Salomão, Lucas Santtana, Nelson Jacobina, Jorge Mautner, entre outros, participam neste disco – que é só para poucos. Como eles. Nota de dispensa destinada somente às remisturas finais francamente menos inspiradas com aquele beat todo. Nota mais, portanto.

O erro de outros

Citando a minha própria pessoa: "Porque conhecer o inimigo principal do mundo democrático ajuda a fundamentar os nossos receios e a torná-los mais realistas."
Este é o texto que devia constar da última frase do anúncio publicitário ao conjunto de artigos de João Marques de Almeida (A Al-Qaeda e o Terrorismo Global) no Independente. O anúncio é, perdoem-me a imodéstia, excelente, eu sei, mas daí o erro ser ainda mais lamentável. Peço por isso desculpas, ao JMA em particular, por outros.

Obs. O headline original era 28-5 (e não 28-M como acabou por ser a opção de quem decide estas coisas...). Muito menos dado a confusões e com uma relação mais directa aos eventos metaforizados pela imagem.

quinta-feira, maio 20, 2004

Coração exposto e vagabundo

Há por aí agora um disco assim meio na moda que se chama «Lágrimas Negras» e que pertence ao pianista Bebo Valdés e ao cantor de flamenco Dieguito "El Cigala". Uma edição de luxo de um CD que anda muito longe de poder ser considerado um lixo. É antes um fenomenal híbrido que arranha a perfeição das nove canções que o constituem. Uma música desavergonhada na exposição dos seus sentimentos, que parece ter sido gravada sob o efeito de uma mistura de rum, cachaça e Rioja. Um estouro de um disco. A fabricação perfeita de uma dor de corno como só os homens sabem o quanto dói.

Waugh (ai se o Prado Coelho lê isto...)

Seguindo à risca as indicações do meu médico, continuo a ler diariamente algumas páginas brilhantes da pena deliciosamente reaccionária do saudoso Auberon Waugh presentes neste livro. Para os mais fiéis e para os mais incrédulos também, deixo em seguida um exemplo. Tão magnífico com os outros todos.
All Honourable Women
«Amid all the honours being thrown around, the only one which seems to have caused some unhappiness was the honorary doctorate awarded to Jacques Derrida, the French philosopher, by Cambridge University, and that was not the result of an arbitrary political decision but careful deliberation by some of the finest minds in the land.
Derrida’s great message to the world is that language is an imperfect vehicle for the communication of ideas because accretions of meaning on words can cause ambiguity and undermine the intention; but even the intention is seldom unambiguous, in any case. So all you are left with is the text, which might be worth a bob or two for an idle academic to take to pieces.
All of which might seem too obvious and too unimportant to be worth saying, but by saying it incoherently enough, Derrida has allowed huge members of semi-literate academics to squabble over it. The award should be seen as being in recognition of efforts in the field of academic job-creation.
The only recent honour about which I had some doubts was Lady Thatcher’s parting award of the British Empire Medal to her cleaning woman, Mrs Booker. I am not saying for a moment that Mrs Booker did not deserve the BEM. I am sure she did, but then so did many hundreds of thousand of others. One of the cleaning ladies at Combe Florey recently retired after 21 years’ service – a good friend, who is sorely missed – and all I was able to give her was a rotten old book. No medal, no ribands.
Why is it thought more meritorious to clean up Lady Thatcher’s mess than that of ordinary private citizens? Where is the sense, where the justice, in this?»
(15 June 1992)

Pobre Camacho

Notícias de última hora dão como certa a transferência da equipa técnica do Real Madrid para o Sporting Clube de Portugal. De acordo com os noticiários da hora do almoço, Carlos Queirós será o novo patrão do futebol leonino e o seu adjunto no Real, José Peseiro, irá exercer as funções de treinador de campo. Em aberto fica ainda a possibilidade de Queirós e Peseiro fazerem-se acompanhar neste seu regresso a Portugal de alguns galácticos do clube madrileno como Zidane, Roberto Carlos, Raul, Morientes (actualmente cedido ao Mónaco) e do próprio David Beckham. Figo, infelizmente, está fora de cogitação - o jogador não pretende vir a ser apelidado de “escudero”.

Carpe diem

Hoje com o Público a obra-prima de Lars von Trier, Ondas de Paixão. Um filme que faz o trajecto da ironia às vezes cruel até à sublime expiação, ao som do Bowie anos 70. Para comprar e rever sempre, porque nunca poderemos estar certos de que o conseguimos ver como ele pede para (e merece) ser visto.

quarta-feira, maio 19, 2004

A cura?

Outro ponto de vista sobre a mesma "doença". Só para equilibrar.

Duplo

Acabei de me cruzar com o homem mais parecido com o meu pai que alguma vez vi. Vinha acompanhado de uma senhora nada parecida com a minha mãe. A inquietação durou apenas dois segundos, lá fora, mas ainda assim decidi deixar o episódio apontado.

Onde está a verdade? (pergunta uma pessoa)

Cada um encontrará sintomas diferentes, mas já ninguém refutará que a América se encontra doente por dentro e cada vez mais aos olhos de todos. Algumas consequências da sua política externa negligente encontram-se já em estado de putrefacção. Com é possível não termos “má-fé” quando a coisa dá até náuseas? Como é possível que a comunicação social desenterre diariamente novas armas de descredibilização maciça dos elementos governativos do presidente Bush, com este sempre à cabeça? Como é possível que o país do mundo onde estão reunidos os maiores cérebros nas mais diversas áreas não tenha conseguido antecipar o ninho de vespas aperreadas que era o Iraque de Saddam Hussein? Como é possível que se tenha dado primazia a outros interesses e valores que estão na origem de toda esta trapalhada? As vespas andam à solta, os credos são mais que muitos e os implicações ilimitadas. O zangão-mor é quem neste momento deve estar a rir-se num buraco tecnológico qualquer do Paquistão, com toda a confusão por si lançada no mundo do pós-11 de Setembro. Será que esta gente não teve brinquedos na infância, não gosta de futebol, cinema, mulheres (ou homens) ou de beber copos com os amigos? Ouve-se à direita, lê-se à esquerda e uma pessoa vê-se afogada em dúvidas e perplexidades. E Novembro fica ainda tão longe...

Pérola

A Ananana já tem para venda o resultado da última colaboração de David Sylvian com Ryuichi Sakamoto, o single World Citizen/ I won't be disappointed: em cinco versões alternativas, uma das quais remisturada pelo mago da electrónica Ryoji Ikeda (o resto são versões short, long, short-version e long-version). Corram a descobrir ou comprem-no assim mesmo... às surdas. É o que pretendo fazer.

terça-feira, maio 18, 2004

De grades e de homens

Para os que gostam de filmes situados em prisões e de histórias de masculinidade coagida em que se confundem sentimentos de amor paternal, amizade e desejo, fica a sugestão de «Animal Factory»/ «Escola de Criminosos», realizado por Steve Buscemi a partir de um argumento de Eddie Bunker (também entra no filme) que contracenara com Buscemi no «Cães Danados» de Tarantino. O filme joga no contraste e na atracção entre as fisionomias e as histórias de vida igualmente marcantes de Ron (Edward Furlong) e Earl (Willem Dafoe, excelente uma vez mais) e tem também um Mickey Rourke irreconhecível – a não ser pelo timbre de voz – no papel de um travesti presidiário; ainda o fabuloso Seymour Cassel dos filmes de Cassavetes na figura do guarda que assegura o serviço administrativo da prisão e, surpresa das surpresas, tem um cameo de Antony que anima o serão dos companheiros de cárcere com uma canção que pode ser ouvida com arranjo mais faustoso no seu disco de estreia com os Johnsons (por quem conseguir comprá-lo). Steve Buscemi que se havia estreado na realização com o caloroso “Trees Lounge” (1996), regressou quatro anos mais tarde com outro projecto onde se sente a cumplicidade de todos os envolvidos: mais próximo do low-profile de Don Siegel do que da magia eloquente de Frank Darabont. «Animal Factory» é na minha opinião um objecto de estimação.

"Dia D menos 1"

A um discurso vago e algo lerdo de Gilberto Madaíl, seguiu-se a divulgação dos 23 convocados para o Euro 2004. Scolari escolheu:
Quim;
Moreira;
Ricardo;
Fernando Couto;
Jorge Andrade;
Miguel;
Nuno Valente;
Paulo Ferreira;
Ricardo Carvalho;
Beto;
Rui Jorge (ILIBADO);
Deco;
Petit;
Costinha;
Maniche;
Rui Costa;
Tiago;
Cristiano Ronaldo;
Helder Postiga;
Figo;
Nuno Gomes;
Pauleta;
Simão Sabrosa.
Exactamente por esta ordem.

segunda-feira, maio 17, 2004

Dose tripla

A não ser que se trate de comer ou dormir, não há mais nada que eu consiga fazer durante três horas sem que me aborreça. Logo, só resisti às duas primeiras horas da primeira parte de três (horas) da série televisiva tornada filme, em duas partes, A Melhor Juventude. Não que se trate de um objecto totalmente desinteressante – e, neste caso em particular, apelidá-lo de televisivo nem sequer é depreciativo da sua condição original. A nossa capacidade de concentração é que não encontra estímulo que baste nesta saga familiar que discretamente vai perdendo o seu grau de imprevisibilidade sacrificado a uma lógica de melodrama preguiçoso: os reencontros sucessivos entre os irmãos, a tontinha Geórgia (ou Giorgia, ou Georgia?) encerrada no mais miserável dos hospícios, a jovem revolucionária que não resiste ao apelo das Brigadas Vermelhas, um olhar mais revelador que na cena seguinte é já consumado sob a forma de casamento e por aí fora. Ver a segunda parte está, para já, fora de questão. Com uma boa dose de boa vontade talvez fique para mais tarde quando uma das tevês nos presentear com este objecto que apela fortemente aos nostálgicos de utopias de tempos que já foram.

Uma questão de glóbulos

Na manhã que precedeu o serão turbulento proporcionado pelos adeptos benfiquistas aos demais portugueses que apenas queriam dormir longe do “assunto” (Deco foi gigante mas era apenas um), permiti-me celebrar antes o aumento do número de glóbulos brancos do golfinho bebé que se encontra a convalescer no Zoo Marine e que dá finalmente mostras de uma possível recuperação em que poucos acreditavam já. Força rapaz!

O GÉNIO em 1959

Blindfold Test: John Coltrane
An Exclusive Online Extra

by Leonard Feather — 02/19/1959

The Blindfold Test below is the first interview of its kind with John Coltrane. The reason is simple: though he has been a respected name among fellow musicians for a number of years, it is only in the last year or two that he has reached a substantial segment of the jazz-following audience.
It is the general feeling that Coltrane ranks second only to Sonny Rollins as a new and constructive influence on his instrument. Coltrane’s solo work is an example of that not uncommon phenomenon, an instrumental style that reflects a personality strikingly different from that of the man who plays it; for his slow, deliberate speaking voice and far-from-intense manner never would lead on to expect from him the cascades of phrases that constitute a typical Coltrane solo.
The records for his Blindfold Test were more or less paired off, the first a stereo item by a big band, the next two combo tracks by hard bop groups, the third pair bearing a reminder of two early tenor giants, and the final two sides products of miscellaneous combos. John was given no information before or during the test about the records played.
The Records
1. Woody Herman. "Crazy Rhythm" (Everest Stereo). Paul Quinchette, tenor saxophone; Ralph Burns, arranger.
Well, I would give it three stars on the merit of the arrangement, which I thought was good. The solos were good, and the band played good. As to who it was, I don’t know…The tenor sounded like Paul Quinchette, and I liked that because I like the melodic way he plays. The sound of the recording was very good. I’d like to make a guess about that arrangement—it sounded like the kind of writing Hefti does—maybe it was Basie’s band.
2. Art Farmer Quintet. "Mox Nix" (United Artists). Benny Golson, tenor; Farmer, trumpet, composer, arranger; Bill Evans, piano; Addison Farmer, bass; Dave Bailey, drums.
That’s a pretty lively sound. That tenor man could have been Benny Golson, and the trumpeter, I don’t know…It sounded like Art Farmer a little bit.
I enjoyed the rhythm section—they got a nice feeling, but I don’t know who they were. The composition was a minor blues—which is always good. The figures on it were pretty good, too. I would give it three-and-a-half.
3. Horace Silver Quintet. "Soulville" (Blue Note). Silver, piano, composer; Hank Mobley, tenor; Art Farmer, trumpet.
Horace…Is that "Soulville?" I’ve heard that—I think I have the record. Horace gave me that piece of music some time ago…I asked him to give me some things that I might like to record and that was one of them. I’ve never got around to recording it yet, though. I like the piece tremendously—the composition is great. It has more in it than just "play the figure and then we all blow." It has a lot of imagination. The solos are all good…I think its Hank Mobley and Art Farmer. I’ll give that four-and-a-half stars.
4. Coleman Hawkins. "Chant" (Riverside). Idrees Sulieman, trumpet; J.J. Johnson, trombone; Hank Jones, piano; Oscar Pettiford, bass.
Well, the record had a genuine jazz feeling. It sounded like Coleman Hawkins…I think it was Clark Terry on trumpet, but I don’t know. The ‘bone was good, but I don’t know who it was. I think the piano was very good…I’ll venture one guess: Hank Jones. It sounded like Oscar Pettiford and was a very good bass solo. And Bean—he’s one of the kind of guys—he played well, but I wanted to hear some more from him…I was expecting some more.
When I first started listening to jazz, I heard Lester Young before I heard Bean. When I did hear Hawkins, I appreciated him, but I didn’t hear him as much as I did Lester…Maybe it was because all we were getting then was the Basie band.
I went through Lester Young and on to Charlie Parker, but after that I started listening to others—I listened to Bean and realized what a great influence he was on the people I’d been listening to. Three and a half.
5. Ben Webster–Art Tatum. "Have You Met Miss Jones?" (Verve).
That must be Ben Webster, and the piano, I don’t know. I thought it was Art Tatum…I don’t know anybody else who plays like that, but still I was waiting for that thunderous thing from him, and it didn’t come. Maybe he just didn’t feel like it then
The sound of that tenor…I wish he’d show me how to make a sound like a that. I’ve got to call him up and talk to him! I’ll give that four stars…I like the atmosphere of the record—the whole thing I got from it. What they do for the song is artistic, and it’s a good tune.
6. Toshiko Akiyoshi. "Broadway" (Metrojazz). Bobby Jaspar, tenor; Rene Thomas, guitar.
You’ve got me guessing all the way down on this one, but it’s a good swinging side and lively. I thought at first the tenor was Zoot, and then I thought, no. If it isn’t Zoot, I don’t know who it could be. All the solos were good…The guitar player was pretty good. I’d give the record three stars on it liveliness and for the solos.
7. Chet Baker. "Fair Weather" (Riverside). Johnny Griffin, tenor; Benny Golson, composer. That was Johnny Griffin, and I didn’t recognize anybody else. The writing sounded something like Benny Golson…I like the figure and that melody. The solos were good, but I don’t know…Sometimes it’s hard to interpret changes. I don’t know whether it was taken from another song or if it was a song itself.
Maybe the guys could have worked it over a little longer and interpreted it a little truer. What I heard on the line as it was written, I didn’t hear after the solos started…It was good, though—I would give it three stars, on the strength of the composer mostly, and the solos secondly…I didn’t recognize the trumpeter.

Em busca da santidade perdida

Acabei de assinar a Sábado. Para ajudar a pagar as noitadas do meu amigo Alberto, o Gonçalves.

sexta-feira, maio 14, 2004

Thanx kiddo!

Após aturado processo de metamorfose, seguem-se dias de merecido descanso. Até breve.

P.S. E foram duas no Kafka.

Apanhem o autocarro

Enquanto hesitam em comprar o novo The Streets, «a grand don't come for free», não deixem de apanhar os sucessivos autocarros deste fantástico E Card. O mal é começar a ouvir, porque a sensação de estranheza passa mais cedo do que podem supor. Bem-vindos às "(not so)mean streets" de Londres da vida do cidadão comum Mike Skinner.

Tchan!

Tchan! Novo visual com alguns problemas pelo caminho. A listagem de links perdeu-se. Solução em breve. Espero.

quinta-feira, maio 13, 2004

Um dia

Quando reencarnar na blogosfera quero ser o Bomba Inteligente ou o Homem a Dias. Livre e bem disposto na minha haute couture como a Charlotte e o Alberto. Quem sabe se com imagens e comentários também.

Lógica dói

Sou uma pessoa menos boa do que a idealização que faço de mim próprio. E o mundo, lá fora, também não ajuda cá grande coisa.

Jornais que fazem miau, miau, miau...

A espiral de promoções com discos, livros, DVDs, enciclopédias (apenas para me ficar pelos produtos mais nobres esquecendo o pechisbeque reservado ao público feminino, em exclusivo) que parece ser hoje regra a seguir por qualquer jornal ou revista que se preze e não despreze um aumento simbólico das suas vendas, transformaram as (mais e as menos) simpáticas bancas em atafulhadas e sufocantes lojas dos trezentos - ou do €1,50 como agora se usa. À sexta-feira é ver os nossos vizinhos jornaleiros completamente de cabeça perdida no meio de tanta fancaria: a malta compra é um facto; e por vezes até eu próprio resigno-me à prática do entulho (é mais barato, sabem como é: compramos o que queremos e o que compramos por comprar). É que a tralha parece reproduzir-se que nem bichos com o cio. E não se pode castrá-los.

Alerta à navegação: atenção (!) aos dias da música, do livro e demais aniversários porque é nessas alturas que chovem as sobras sobre o que antes era já mato.

Cremaster(S)

Matthew Barney encontrou, com sentido, no cinema, a arte total que permitiria expor o seu universo com máximo poder expressivo. Deste modo condicionaria até a fruição da sua própria obra. Mas o resultado é a meu ver um logro, uma impostura, um ritual de figuras mais ou menos abjectas e de matérias que remetem para as excrescências do corpo humano. Bizarrias que se articulam de forma tão monótona e hermética que não imagino a possibilidade de outra resposta por parte do espectador que não um tremendo de um enfado. Barney parece ver tudo como uma representação em potência do sexual. Acontece que o seu imaginário é pobre e a potência que o mesmo convoca é obstinadamente codificada e murcha.
Mais do que de um manual de instruções – que existe mesmo no site do projecto Cremaster, e que está muito bem construído –, o que cada filme necessitaria era de comentários sobrepostos e constantes do artista ao que se vê no ecrã (tipo extra de DVD). É que especular no quase absoluto abstracto também faz-nos chegar depressa ao limite da paciência.
Não vi como referi antes o filme número 3 da série, e dos outros quatro gostei apenas da música de Jonathan Bepler para os filmes 2 (mais ambiental) e 5 (mais operática). Muito pouco como se constata para o que era antecipado como um evento sem paralelo na sua ambição e na capacidade de promover o fascínio no espectador. Matthew Barney enquanto artista (plástico) que se exprime através do cinema é um lamentável e exasperante equívoco. Bizarras e surpreendentes são mesmo só as reacções entusiásticas que a sua obra cinematográfica suscita.

P.S. Para uma outra opinião mais fundamentada, ler o artigo de Augusto Seabra aqui.

quarta-feira, maio 12, 2004

O lago e os cisnes

Este deve ser um dos discos mais bonitos que comprei este ano. O reencontro com a grande escrita de canções, de um despojamento e musicalidade pacificadoras. A descoberta do multi-talentoso Sufjan Stevens e do seu «Seven Swans». Um disco que me reconciliou com o momento (agora) em que procuro... ... ... preencher o cérebro com outras imagens. As de um lago, de um jardim, de um fim de tarde passado noutro sítio que não este.

E agora um cheirinho a Rodgers & Hammerstein

Something Good
Perhaps I had a wicked
childhood/ Perhaps
I had a miserable youth/
But somewhere in my
wicked,
miserable past/ There
must have been a moment
of truth/
For here you are/
Standing there/
Loving me/ Wether or
not you should/
So somewhere
in my youth
or childhood/ I must
have done something
good/ Nothing
comes from nothing/
Nothing ever could/
So somewhere in my
youth or childhood/
I must have done
something good


(Caetano Veloso: voz e violão)

Original

A única razão pela qual continuo com o blog ainda hoje é a minha disponibilidade para o escrever.

Imitação

A única razão pela qual não acabo já hoje com o blog é a minha capacidade para o fazer.

Número da sorte

Após espera mais longa que o previsto, está à venda o número 13 da revista op que é feita pelo Bruno Bénard-Guedes junto com uma equipa de ilustres voluntários. A op é de caras a melhor revista de música que temos, e fala igualmente de cinema, livros, moda e publicidade. A atracção especial deste número diz respeito às muitas listas dos MELHORES DE 2003, onde pululam razões para voltar a pegar em discos/livros/DVDs que ficaram esquecidos ou (é também frequentemente o caso) comprar coisas que passaram ao lado. À venda nas melhores livrarias e noutras casas de bom gosto.

Sem espinha

Troquei ver Cremaster 3 por um jantar tranquilo em casa; pela felicidade de me poder descalçar; pelo prazer da leitura nocturna dos jornais do dia. Lá se foi o “curso de arte contemporânea” com a espinha dorsal do trabalho escultórico-cinematográfico do Sr. Matthew Barney. É que um filme-instalação de 3 horas quase a seguir a uma reunião maçuda de igual duração (apesar do intervalo que serviu apenas para aumentar o dilema), pareceu-me finalmente inconciliável. Cansaço ou cobardia intelectual, se assim o quiserem. Mais uma coisa que deixei incompleta na minha vida. Que se dane.

terça-feira, maio 11, 2004

O outro nome de Lisboa

Ninguém diz as palavras do fado e da canção ligeira portuguesa como Carlos do Carmo. Com segurança, rigor e total inteligibilidade. Por isso é que no decorrer do espectáculo comemorativo dos seus 40 anos de carreira – editado em CD (é o que tenho) e DVD – a voz deste intérprete de excepção está de alguma forma sempre acima do acompanhamento escolhido para a servir. Sejam as canções (fados) eternas ou já fora de uso; convoque-se ou não o acompanhamento do público em alguns refrões; sejam mais servis ou mais contrapontísticos os arranjos da orquestra; independentemente da arte individual de cada músico (Ricardo Dias, Ricardo Rocha, Carlos Manuel Proença, Carlos Bica, Júlio Pereira) que faz do corpo central do espectáculo – uma voz, um instrumento – o seu momento mais assombroso; é Carlos do Carmo que se impõe a tudo em todos os instantes. Só não se impõe à cidade de Lisboa, pois já é de há muito que Lisboa e Carlos do Carmo querem dizer só uma e a mesma coisa. Gostar de um implica necessariamente gostar do outro.

Na ressaca da preguiça

O Homem a Dias de cara lavada. Erudição pelo sorriso em doses homeopáticas. Viciantes.

segunda-feira, maio 10, 2004

Canções para uma guitarra ainda triste

Qual a diferença que existe entre os activos Sun Kill Moon e os extintos Red House Painters? Nenhuma, e ainda bem que é assim. E também não será pelas letras que o próprio Kozelek assina que a mesma se acentuará. Ainda assim, a verificar em futuras audições. Apontem aí, ó pró-americanos! Ghosts of the Great Highway.

O estranho mundo de Rosa Carne

Rosa Carne. Será outra designação para o sexo da mulher? Acho bonito se tal for o caso, sendo o caso o novo disco dos Clã (diz quem conhece o que está para trás que é o melhor disco dela com eles) que quanto mais não seja pelo protagonismo de Manuela Azevedo, condiciona que dêmos mais relevância ao ponto de vista feminino que dele retiramos. Rosa Carne é composto por uma luxuosa música de carrossel que anda às voltas com o amor e outras complicações da vida adulta. As letras são inteligentes, são cultas (gosto em particular das contribuições de Carlos Tê) e colocam ainda mais em evidência os dotes interpretativos de Manuela Azevedo, que vai do sussurro ao grito com muita intensidade - à semelhança do que sucede (é o melhor exemplo) com Adolfo Luxúria Canibal que, passe a coincidência, também escreveu duas letras* para este CD dos Clã. Há canções menos boas (quem não as tem?) em “Topo de Gama” e “Guardo Segredo”, mas no seu todo Rosa Carne é o tal disco da maturidade que os Clã já justificavam (apesar do potencial de «Lustro» que só em parte conheço) e que o excelente primeiro single, “Competência para Amar”, fazia antever. O estranho mundo representado em Rosa Carne é, afinal, o nosso próprio mundo.

* Procurem em “Lágrima de Moça” a faixa Kate Bush do disco. O que quer que isto queira dizer só interessa a quem conhece e eventualmente gosta da cantora inglesa.

Inveja e fatalidade

Se soubesse o que sei hoje, teria saído para o Porto na sexta-feira - passa-se sempre muito bem um fim-de-semana de vez em quando na capital do futebol português - e teria assistido aí ao concerto de Elvis Costello um dia antes de ver Arto Lindsay, e já não me roeria de inveja de todos os relatos todos entusiásticos do que começo a acreditar ter sido o concerto do ano até agora. Não, não foi a inveja que terá motivado o sarcasmo das minhas observações em relação à segunda metade do espectáculo de José Mário Branco nos Coliseus, é mesmo aquela fatalidade de magoarmos mais aqueles de quem mais gostamos. Só isso.
Como a inveja (ou a fatalidade) é um sentimento feio de se ter e muito mais feio de se manifestar, estabeleci de penitência para moi-même a escolha de cinco discos de 2004 de todas as coisas que de há cinco meses para cá vêm sido editadas. E como cinco discos apenas seria tarefa por demais acessível, (perdendo só mais uns segundos a pensar...) serão cinco nacionais e cinco internacionais. Depois de consultarem os resultados, façam o favor de me massajar o ego comprando uns deles. Estou certo de que não se irão arrepender. Pois então:

NACIONAL
Quinteto Tati - Exílio;
Aldina Duarte - Apenas o Amor;
Clã - Rosa Carne;
José Mário Branco - Resistir é Vencer;
Gomo - Best Of.

INTERNACIONAL
The Magnetic Fields - I;
Arto Lindsay - Salt;
Caetano Veloso - A Foreign Sound;
Fennesz - Venice;
David Byrne - Grown Backwards;
Elvis Costello - North (menção honrosa I, porque será?);
(... mas sendo North na realidade de 2003, achei por bem substituí-lo por «Absent Friends», do(s) The Divine Comedy)
Telefon Tel Aviv - Map of What is Effortless (menção honrosa II);
Blockhead - Music by Cavelight (menção honrosa III);
Sam Phillips - A Boot and a Shoe (menção honrosa IV);
cLOUDDEAD - Ten (menção honrosa V).

Eu me absolvo, portanto. Por tão pouco.

E já agora, porque o dia vai folgado, mais cinco escolhas que dizem respeito a filmes estreados este ano. Esta coisa das listas é uma doença.

FILMES
Kill Bill vol. 2 (Quentin Tarantino);
O Grande Peixe (Tim Burton);
Coisas Secretas (Jean-Claude Brisseau);
Lost in Translation (Sofia Coppola);
Uma História Japonesa de Amor (Sue Brooks).

A cantiga é um brinquedo

O concerto de José Mário Branco (JMB) em Lisboa surpreendeu mas, lamento, não pela positiva. Na primeira e mais longa parte, JMB aviou com trabalhos de rigor o seu novo «Resistir é Vencer» que, não obstante uma ou outra resistência já aqui manifestada, considero um muito bom disco. O som do mesmo resultou no entanto magro na prestação ao vivo, até porque não havia espaço para a orquestra e porque é difícil reproduzir neste contexto a alta-fidelidade que um registo imponente e minucioso como «Resistir é Vencer» exige. Mas o que se ouviu não desprestigiou o trabalho gravado e foi até comovente assistir ao ar compenetrado com que JMB dizia (já pouco canta) as suas próprias letras, e dirigia os muitos e excelentes músicos em palco. O único deslize acabou por ser a prestação de Fausto completamente ao lado de tudo. Acontece aos melhores e Fausto, segundo reza a lenda, nunca foi muito seguro nestas coisas do espectáculo (já nos discos, a história é outra...). O pior, contudo, estava guardado para a segunda metade do alinhamento que a plateia chique e nostálgica há muito exigia. O coro dos Gambuzinos regressou ao palco, e JMB presenteou-nos – qual avô cantigas revolucionário – com um medley extensíssimo onde não faltaram bandeiras como «Inquietação», «Eu vim de longe...», «O Charlatão», «FMI» convertidas agora pelos arranjos sequino d’oro em verdadeiras canções para a pequenada "renar" – à revolução, entenda-se, porque acredito que esta terá sido a resposta encontrada por JMB (pelo Bloco?) às comemorações de Abril feito “evolução”. À falta de um desabar de cravos vermelhos sobre a plateia, fomos presenteados com um momento musical infantil que se bateria de igual-para-igual com produtos de moral açucarada como as telenovelas (comparação possível: «Ana e os sete», «Zé Mário, dos zero aos sete») e filmes do género «O Carteiro de Pablo Neruda» ou «Cinema Paraíso». A plateia enternecida, delirava (quantos dos presentes seriam pais dos pequenos Gambuzinos?).
Depois do bebé dos outdoors que ensonado ergue o punho da resistência ao governo da coligação, espantado ainda pergunto: que fraqueza foi essa, amigo?

O som caetano do estrangeiro*

Um capricho. Um equívoco. Um devaneio. Uma bobagem. Uma babugem. Uma beleza. Um disco que se ouve sem vontade. Um disco que dá vontade de ouvir. De novo. Mais alto. Mais baixo. Em qualquer ocasião. Cada uma das suas vinte e três músicas. Cada um dos seus setenta e cinco minutos. Com orquestra. Com percussão. Com uma guitarra. Com duas guitarras. A fazer de Billie. A fazer de Bob. Com violão. Com violoncelo. Com a voz apenas. Quando não houver mais Caetano. Quando não voltar mais a haver alguém como ele. E ficarem só os discos. E ficarmos sós com eles. Com o som deles. Mais familiar ou mais estranho. Estrangeiro. Quando familiar e estrangeiro significarem a mesma coisa. Caetano.

* A foreign sound

Para quem gosta de música

Aqui fica a sugestão para visitar o colectivo Laranja Amarga e também o Roda Livre do Jorge Mourinha. Boas leituras e não apenas sobre música.

A space-jam foi óptima e as cadeiras mantiveram-se limpas

Começou com cerca de uma hora de atraso o concerto de Arto Lindsay no degradado Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Começou atrasado, porque antes decorrera uma peça de teatro de revista que o próprio Arto Lindsay fez questão de denunciar tratar-se de “uma grande merda”. Uma vez evacuado o público revisteiro, ocorreu o teste de som a correr e o concerto arrancou. E foi uma daquelas raras ocasiões em que um músico não se limita a reproduzir as notas do disco que vem promover. Arto Lindsay, já mais descontraído, fez ainda algumas piadas porque alguém lhe dissera (?) que o Sá da Bandeira passava filmes pornográficos – perguntou a certa altura se as nossas cadeiras estavam limpas. Actuou com mais dois músicos – o baixista Melvin Gibbs e outro negrão que tocava teclas, sax, electrónicas, cujo nome não recordo mas que para os devidos efeitos decidi baptizar de Dennis Rodman. Apresentaram o novo «Salt» quase na íntegra em estilo weird-jam-session, com algum noise e muito space-jazz pelo todo. «Noon Chill» (um álbum quase tão bom como este último) também teve direito a constar dos encores do que acabou por ser um concerto picante que teve por base um disco salgado. Mas apesar de todo esse sal, as cadeiras mantiveram-se presumo que limpas e inodoras até final. E também no final não havia concorrência para autografar os CDs, coisa que em Lisboa (onde Arto confidenciou que regressará para um concerto, em Outubro ou Novembro) só muito improvavelmente aconteceria.

sexta-feira, maio 07, 2004

Negrais

Foram necessárias seis canções dos Kings of Convenience e uma garrafa de Água das Pedras para dar a volta ao leitão da Tia Alice, para o qual viu-se que tive mais boca que estômago. De qualquer modo, continua a ser a segunda melhor zona do país para desfrutar desta iguaria.

As cópulas de Mr. Barney

Teve início ontem nos King a exibição dos dois primeiros filmes da série Cremaster. Seguindo a minha própria sugestão, fui à sessão das 18h30, e saí quase no mesmo desconhecimento com que entrei. Mas antes também não resistira à proposta económica de comprar bilhetes para os cinco filmes, dando o salto, no espaço de minutos, entre a figura do curioso que vai tomar contacto com a estranheza de um universo originário dos domínios da arte contemporânea, até à personificação do mais fervoroso cinéfilo que estabelece logo à partida o contrato para cerca de seis horas do mesmo programa.
Até hoje cedo não sabia ainda como descrever a experiência de ver os dois primeiros Cremaster – só comparáveis, na minha vivência da sala escura, com alguns filmes de Kenneth Anger que vi em Vila do Conde mas, agora que penso neles, também nada lhes encontro em comum... Depois lembrei-me de compará-los - apenas por uma questão de exercício de retórica - com os dois primeiros anos de um curso de arte/ instalação, em versão acelerada, que me deixou perdido na tentativa de descodificar as imagens vistas; que me deixou frustrado e quase sempre ensonado; embora mantenha alguma expectativa para o que resta de um projecto que imagino seja de igual modo bastante abstracto, concretizando embora (espero) as metáforas sobre o sexo e a metamorfose já existentes em Cremaster 2, que fizeram para mim os momentos mais interessantes do filme. Isso, e o trabalho com o som próximo do Lynch mais perturbador; e o trabalho com as mutações do corpo humano próximas do Cronenberg mais analítico.
Quanto aos últimos três anos, completarei em sessões das próximas terça e quarta-feira.

E agora, passamos às sinopses dos cinco filmes de Matthew Barney:
Cremaster 1
|1995|40'
Uma diva platinada desenha padrões geométricos com dois dirigíveis da Goodyear sobre um estádio de futebol, enquanto um grupo de "showgirls" interpreta uma coreografia ao estilo de Busby Berkeley.

Cremaster 2
|1999|79'
Magníficas e alucinantes imagens que vão desde os campos gelados do Canadá até às planícies salgadas do Utah, ao som de sinistra música de órgão, numa história que envolve o assassino Gary Gilmore (Barney, himself) e o seu suposto avô Harry Houdini (Norman Mailer, num dos seus mais arrebatadores cameos desde o Rei Lear, de Godard).

Cremaster 3
|2002|180'
É o trabalho mais extraordinário e hipnótico de Matthew Barney. O Aprendiz tenta passar por duas bandas "hard-core", coristas e uma mulher-felina, enquanto escala os vários níveis do átrio do Museu Guggenheim para, no final, enfrentar o seu mestre Hiram Abiff, o arquitecto do Edifício Chrysler (interpretado pelo escultor Richard Serra).

Cremaster 4
|1994|42'
Na Ilha de Man, duas equipas de sidecar competem em sentidos opostos à volta da ilha, enquanto o Candidato Loughton executa um número de sapateado, rodeado de bizarras fadas, até o chão ceder por causa da erosão e o Candidato mergulhar numa fascinante e iniciática fantasia sexual.

Cremaster 5
|1997|55'
A imperial e elisabetiana Rainha das Correntes (Ursula Andress) é a principal espectadora - acompanhada por fadas, um mágico e vários espectadores de género e espécie indefinida -, de um lascivo espectáculo operático interpretado pela Budapest Opera and Philharmonic Orchestra.

A melhor série de televisão de sempre

Pedro Marta Santos, no Independente da semana passada, já chamava a atenção para a edição inglesa em DVD de The Singing Detective, a minha série de TV preferida de sempre. Não esqueço, como ele também não esquecia, «Reviver o Passado em Brideshead» e «Os Sopranos», mas a arte de Dennis Potter permanece inatingível em termos da mais pura criatividade na utilização da língua inglesa e na criação de situações que seriam insuportavelmente constrangedoras se não fossem ao mesmo tempo tão divertidas. Encomendem aqui, que não é todos os dias que um universo totalmente novo se vos revela.

quinta-feira, maio 06, 2004

Welcome back

De regresso está também o Luciano Amaral. Reparei que hoje aniversários é o que não falta. E já vão três!!!

1 ano

O Abrupto, devo confessar, é apenas o terceiro sítio onde mais gosto de acompanhar o pensamento por si mesmo de José Pacheco Pereira - o único político português que conheço que tem um discurso por vezes desalinhado do do seu próprio partido. Gosto primeiro do Pacheco Pereira das 5as feiras no Público; depois do Pacheco Pereira da Quadratura do Círculo, que me força a um por vezes duro jogo de cintura para conseguir estar disponível, frente ao televisor, à meia-noite de sábado ou às 15h de domingo; e por último o Pacheco Pereira do Abrupto, o blog com o prémio de montanha mais duro de toda a blogosfera - o bravenet mostra como é. Parabéns José Pacheco Pereira. Até amanhã, na Sábado.

As minhas palavras, precisamente.

«Gostava de homenagear o Porto pelo feito de ontem: desde há meses que comecei a torcer pelo Porto na Liga dos Campeões, contra os meus instintos iniciais, pelo simples facto de que eles jogam que se fartam. Ora, o futebol bem jogado é uma coisa que dá imensa alegria. Ficaria mais feliz se algum dia fosse o meu clube a dar-me uma alegria semelhante a esta; mas muito provavelmente não será, no meu tempo de vida nunca será. A realidade é que o feito alcançado pelo Porto - e pelo Mourinho - está para além do sucesso desportivo razoavelmente concebível. Chegar à final da Liga dos Campeões hoje é muito mais difícil do que chegar à final da Taça dos Campeões Europeus onde o Benfica e o Porto antes estiveram. Tendo ganho já a Taça UEFA no ano passado, o Porto está perto de um sucesso que me parece que ultrapassa as míticas vitórias do Benfica de Eusébio na década de sessenta. As desigualdades entre os clubes mais ricos da Europa e os outros, nos quais o Porto se inclui, nunca foram tão grandes como agora; e se na Taça dos Campeões cada país tinha apenas um clube representado, hoje a Inglaterra, a Espanha ou a Itália chegam a ter três e quatro.»

Tive exactamente o mesmo tipo de conversa do Ivan, exactamente com as mesmas palavras do Ivan, em casa de um amigo enquanto ontem assistíamos ao Chelsea-Mónaco na Sport TV. Então se se confirmar a minha suspeita do Ivan ser do Sporting, tanta coincidência chega a fazer arrepiar...

À espera do novo Morrissey

Já aqui confessei não ter aprofundado nunca a minha relação com a música dos The Smiths, apesar de reconhecer que foram uma das mais importantes bandas da pop feita nos anos 80. E se isto é válido para os The Smiths - isto é, um considerável desconhecimento da matéria em escuta -, ainda o é mais para a carreira a solo de Stephen Patrick Morrissey, figura de contornos enigmáticos cada vez mais afastada da mundanidade onde um dia talvez a tenham querido encerrar. Para resumir: embora possua três discos dos The Smiths e outros três de Morrissey a solo, sou apenas intimo dos singles, não arriscando mais do que uma visão de conjunto sobre os rapazes e ele. Ora, isso não impediu que nas últimas semanas se tenha instalado em mim uma curiosidade cada vez mais forte em relação ao novo disco de Morrissey, You Are the Quarry, de que já ouvi dizer ser tão bom como o melhor que os The Smiths alguma vez gravaram. Sou seguidor atento da imprensa musical escrita, hábito que cultivo de forma tão disciplinada que nada me escapa (para desconforto dos que me ouvem constantemente debitar referências atrás de referências...): nem o Monchique do Público, nem o MEC do Blitz, nem os outros todos. You Are the Quarry, o anunciado potencial candidato a melhor disco de canções de 2004 já tem reserva em meu nome na Amazon inglesa. Enquanto não se cumprem as semanas até à data oficial de lançamento, decidi fazer (calhou ser hoje!) uma retrospectiva pela minha sumária discografia Smiths/ Moz (não é assim Pedro?) passando em revista o álbum homónimo dos The Smiths, Meat is Murder, The Queen is Dead, e de Morrissey Viva Hate, Southpaw Grammar e Vauxhall and I. (Pensando em voz alta) "Pode ser, malta?"

quarta-feira, maio 05, 2004

Meio sustento

É já no próximo dia 15 de Maio, um sábado, que vai tudo a sopas, a partir das 12h30, no Parque do Mouchão, em Tomar. Os 8 euros cobrados à entrada do XI Congresso da Sopa dão direito a uma tigela, uma colher e um copo (calma, nada de desesperos que o melhor vem já a seguir...) e depois é fartar vilanagem no enchimento da pança com todas as variedades de sopa presentes, além do pão, água, VINHO e café. A ocasião tem um intuito benemérito, mas passemos por ele a correr porque a malta não precisa de pretextos de coração para encher a barriga, não é verdade? Se me virem por lá, não se distraiam, porque a vossa próxima sopa pode acabar na minha tigela.

Serrat sinfónico e ao vivo

Se conseguir bilhetes para uma das datas de Madrid, no Teatro Albéniz, cumprirei um dos sonhos da minha vida - logo eu, que em matéria de sonhos, e só nessa, considero-me até uma pessoa modesta. A ocasião apresenta-se para finais de Outubro, mas estou já a tratar do assunto. Conto contigo, Miguel!

Paga

Das três equipas ontem em campo, só o Corunha falhou. Logo, foi um justo perdedor.

terça-feira, maio 04, 2004

Agora às terças e também às sextas, na Sábado

Ó Alberto, isso é lá coisa que se faça? Avisar-nos só a meio da tarde quando o CM já rareia. De vingança, também não te dou a minha opinião sobre o texto de hoje.*

* é que ainda não o li.

"Favas", de La Fontaine (ementa para a felicidade)

Acabei de almoçar há meia-hora atrás as melhores favas guisadas à portuguesa da minha vida sentada. Quem souber de coisa melhor que um homem possa fazer vestido, que atire a primeira fava... Perdão, a primeira pedra! Directamente da horta do amigo Carlos Godinho, cozinhadas a preceito pelo sr. Zé Luís, uma verdadeira ode à auto-estima lusitana. Qual Pap'Açorda, qual Bica do Sapato, qual carapuça. As favas de hoje estavam divinais. E como se os prazeres não fossem já de sobra, de passeio pela Bulhosa aqui do lado ainda dei de caras com a nova Periférica (o número 9) e, alto lá, a nova colectânea de escritos de Abel Barros Baptista, intitulada «ensaios facetos» (Cotovia). Comprada e comprada. Agora que o tempo está esquisito e tudo o mais, já pode sobre mim tombar o raio mais inclemente que morrerei com um sorriso nos lábios (de vinho tinto) e a promessa de regressar esporadicamente para saciar saudades dos poucos que sentirão a minha falta.

segunda-feira, maio 03, 2004

De repente (3,2,1)

À terceira audição o segundo CD dos The Strokes pareceu-me quase tão bom como o primeiro. Há dias em que tudo acontece como se nada acontecesse e, no entrepouco, perde-se ou ganha-se um disco. Vamos ver o que sucede com mais uma passagem de «Room on fire», de que vos pouparei mais pormenores.

O bizarro mostra-se

A Atalanta Filmes vai estrear já no próximo dia 6 de Maio, no cinema King, em Lisboa, o Ciclo Cremaster, de Matthew Barney, aquele que foi considerado pelo The New York Times como “o artista mais importante da sua geração”.
São cinco filmes, a que Barney deu o nome de Cremaster - o termo que designa o músculo de tensão dos testículos -, que mostram o universo originalíssimo que consagrou o artista plástico. Entre seres mitológicos, metamorfoses corporais, combates rituais, showgirls, bandas “hard-core”, paisagens apocalípticas e cenários como o Bronco Stadium, o Guggenheim ou o Chrysler Building, são filmes que abarcam todas as artes, desde o teatro à ópera e à música, num ciclo a não perder.

«Numa perspectiva centrada nas formas de representação do corpo a obra de Barney é uma exploração dos limites da actividade performativa dos corpos, considerados como objecto de um processo de metamorfose infinita. Através deste processo é posta em causa a divisão em géneros (masculino/feminino), espécies (humano, animal, mitológico, fantástico) e estados (orgânico, inorgânico, fluido). O ser vivo funde-se com o artefacto, o corpo acopla-se ao objecto, a acção transmuta-se em escultura. » Alexandre Melo


Raros são os universos que hoje em dia suscitam qualquer expectativa. Correndo sempre o risco da decepção sugiro, no quase total desconhecimento do mesmo, uma investida pelo universo bizarro de Matthew Barney. As fotografias são no mínimo inquietantes. Quanto aos filmes, não deverá ser preciso "tê-los" para querer vê-los.

Q&U

Tarantino terá conhecido Uma Thurman em 1994, por alturas do «Pulp Fiction» deles: filme de Palma e filme de Oscar. Apaixonaram-se, foram namorados, mas tudo acabou por... terminar. Uma Thurman viria a apaixonar-se depois pelo agora menos imberbe Ethan Hawke, o jovem discreto do “clube dos poetas mortos” convertido então a um look grunge e à categoria de actor/ encenador de teatro com as horas vagas distribuídas por Hollywood e pela escrita criativa. Uma e Ethan namoraram, casaram e tiveram um filho (acho que foram dois, cada qual de sua vez, mas não tenho a certeza). A gravidez de Uma Thurman forçou um adiamento na rodagem de Kill Bill, um filme que só com ela podia ser feito. O primeiro volume, se bem se recordam, resultou numa orgia de sangue servida pelas melhores coreografias kung-fu que um ocidental jamais filmara. O volume dois, estreado na passada quinta-feira, é antes um espectáculo transferido para a paciente esgrima da palavra. Já não mais espectadores da orgia, somos remetidos para a densidade de alguns dos mais belos preliminares que a arte do cinema nos deu a “ouver” desde a sua origem. Dá a sensação de que o cinema terá sido inventado para que Tarantino colocasse frente-a-frente a beleza fatal de Beatrix Kiddo (Uma) e o carisma viperino de Bill (David Carradine, no personagem pelo qual passará a ser recordado). Trata-se de uma obra-prima em dois volumes e muitos capítulos que encerrará até ver a história de Quentin e Uma. A história de uma paixão obsessiva que só o grande cinema podia contar. Donde se conclui: Tarantino pode afirmar com toda a convicção que o “Bill é ele”.

domingo, maio 02, 2004

Que grande golo

Que grande galo.


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