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quinta-feira, setembro 30, 2004
No Rapid de Viena - Sporting a história não se repetiu porque foi jogo sem história. Okay, o nosso clube provou que sabe gerir uma vantagem. Mas a inoperância ofensiva continua a ser de levar as mãos à cabeça. E no Sporting (maldita angústia) todos parecem querer lavar as mãos desta realidade. A mesma realidade que um pontapé de Rochemback, fortíssimo e muito próximo do alvo, esteve próximo de estilhaçar na sua consistência. Como irá ser com o Leiria? Realidade ou sonho?
Days of Rot(h)
Levanto nos correios duas encomendas chegadas em simultâneo, contendo ambas livros de Philip Roth. O judeu norte-americano Roth é o autor que mais me impressionou em anos recentes pela inteligência de criar consecutivos níveis de compreensão num diálogo, num parágrafo, num capítulo, onde a interioridade dos personagens se descobre em camadas que se alteram de página para página.
Sabia por onde começar mas ainda assim estiquei os braços lateralmente, segurando numa mão The plot against America e na outra O teatro de Sabbath. Pareceram-me ter peso semelhante, embora a menor densidade ao tacto do livro acabado de sair decidisse uma prioridade já de si decidida. Sou leitor suficientemente preguiçoso também de Philip Roth para ter de romancear a entrada em cada novo livro seu. Este fim-de-semana, se não antes, Philip Roth voltará a competir pela minha atenção pelo meio das outras leituras que largo e pego todos os dias.
Roth e eu, pessoas completamente distintas. Ele um genial autor; eu um esforçado leitor. Eu completamente disperso nos meus interesses; ele totalmente focalizado no labor diário da escrita. E porque o sentido da vida não é transmissível (Roth concordaria?), continuo em busca de um sentido para a minha: no exercício secreto e doloroso da leitura; no exibicionismo mais ou menos pueril do blogue; nas outras coisas todas que envolvem todas as outras pessoas e que por isso não são para aqui chamadas.
Aspirando a que me vejam como um leitor de Philip Roth, ainda acabo olhado como espécie de versão lisboeta dos "mandriões do vale fértil" de Cossery: snorring like an egyptianzzzzzzz...
Sabia por onde começar mas ainda assim estiquei os braços lateralmente, segurando numa mão The plot against America e na outra O teatro de Sabbath. Pareceram-me ter peso semelhante, embora a menor densidade ao tacto do livro acabado de sair decidisse uma prioridade já de si decidida. Sou leitor suficientemente preguiçoso também de Philip Roth para ter de romancear a entrada em cada novo livro seu. Este fim-de-semana, se não antes, Philip Roth voltará a competir pela minha atenção pelo meio das outras leituras que largo e pego todos os dias.
Roth e eu, pessoas completamente distintas. Ele um genial autor; eu um esforçado leitor. Eu completamente disperso nos meus interesses; ele totalmente focalizado no labor diário da escrita. E porque o sentido da vida não é transmissível (Roth concordaria?), continuo em busca de um sentido para a minha: no exercício secreto e doloroso da leitura; no exibicionismo mais ou menos pueril do blogue; nas outras coisas todas que envolvem todas as outras pessoas e que por isso não são para aqui chamadas.
Aspirando a que me vejam como um leitor de Philip Roth, ainda acabo olhado como espécie de versão lisboeta dos "mandriões do vale fértil" de Cossery: snorring like an egyptianzzzzzzz...
Auberon is back. Alberto not yet.
World at Their Feet, por Auberon Waugh
«In the general tumult of medical advice, one can sometimes hear a little old-fashioned common sense. In Sunday’s newspaper Dr Hugh Rushton, the eminent authority on hair loss and Fellow of the Institute of Trichologists, revealed that one of the best ways to stop going bald is to drink in excess.
With such a distinguished surname, Dr Rushton might be suspected of playing a practical joke, but he was supported by no less an authority than Dr Malcolm Carruthers, the consultant andrologist who associated the hairiness of heavy drinkers with a lower testosterone level. Pictures were shown of such well-known drinkers as Jeffrey Bernard, Oliver Reed and George Best. All had plenty of hair. Comparing them with my own slightly thinner top, I cannot help wondering exactly how much one must drink to achieve the desired effect.
Further good news on the health front is to be found in a report from Exeter University Schools Education Unit. Our teenagers are altogether healthier than they were 10 years ago. They are watching less television, paying more attention to personal hygiene, brushing their teeth more and having fewer fillings. They are also smoking more, although the researchers do not necessarily adduce this as a reason for their better health.
More boys and girls consider themselves regular smokers by the age of 15 than in 1986. I think that the reason for all this optimism and self-assurance is that for the first time in years there is some prospect of employment for them. Police are now recruiting vast numbers of teenagers to inform on their friends and acquaintances – and paying large sums of money for the service.
Now they learn that if they drink enough alcohol they have a good chance of keeping their hair, and they can see that the world is at their feet. » (30 Julho 1997)
Para o Alberto Gonçalves, Membro Honorário da família Waugh, que neste momento viaja em férias pelos Países Baixos. Safe return, old chap!
«In the general tumult of medical advice, one can sometimes hear a little old-fashioned common sense. In Sunday’s newspaper Dr Hugh Rushton, the eminent authority on hair loss and Fellow of the Institute of Trichologists, revealed that one of the best ways to stop going bald is to drink in excess.
With such a distinguished surname, Dr Rushton might be suspected of playing a practical joke, but he was supported by no less an authority than Dr Malcolm Carruthers, the consultant andrologist who associated the hairiness of heavy drinkers with a lower testosterone level. Pictures were shown of such well-known drinkers as Jeffrey Bernard, Oliver Reed and George Best. All had plenty of hair. Comparing them with my own slightly thinner top, I cannot help wondering exactly how much one must drink to achieve the desired effect.
Further good news on the health front is to be found in a report from Exeter University Schools Education Unit. Our teenagers are altogether healthier than they were 10 years ago. They are watching less television, paying more attention to personal hygiene, brushing their teeth more and having fewer fillings. They are also smoking more, although the researchers do not necessarily adduce this as a reason for their better health.
More boys and girls consider themselves regular smokers by the age of 15 than in 1986. I think that the reason for all this optimism and self-assurance is that for the first time in years there is some prospect of employment for them. Police are now recruiting vast numbers of teenagers to inform on their friends and acquaintances – and paying large sums of money for the service.
Now they learn that if they drink enough alcohol they have a good chance of keeping their hair, and they can see that the world is at their feet. » (30 Julho 1997)
Para o Alberto Gonçalves, Membro Honorário da família Waugh, que neste momento viaja em férias pelos Países Baixos. Safe return, old chap!
quarta-feira, setembro 29, 2004
(take5) Antestreia em competição no próximo dia 1 de Outubro, pelas 21h30, no S. Jorge, integrado no festival IndieLisboa, o filme A CARA QUE MERECES
... de Miguel Gomes, com José Airosa, Gracinda Nave, Miguel Barroso, Pedro Caldas, João Nicolau, RICARDO GROSS, Rui Catalão, Manuel Mozos, António Figueiredo e Carloto Cotta.«Francisco, porta-te bem! Sei que é o teu aniversário, já tens trinta anos, é Carnaval, estás vestido como um cowboy para a festa da escola e estás rodeado de miúdos que detestas. Mas não é razão para seres tão chato… Repete comigo: “Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces”.» (sinopse)
para mais informações: www.indielisboa.com
para mais informações: www.indielisboa.com
O anjo das trevas que retirou a mitologia ao western (ou quase)
Se O homem que matou Liberty Valance, de John Ford, fosse revisto pelo negrume de Imperdoável, podia dar origem à seguinte fórmula: when a fact becomes a legend, kill the legend. Em Imperdoável, muitos são os que morrem porque todos têm (temos) culpas a pagar.
Qualquer pretexto vale para rever este filme. Académico, é certo, mas apocalíptico como poucos. William Munny assombrará para sempre a história da sétima arte: outra figuração de fantasma – no caso, de anjo exterminador – das várias que Eastwood compôs na linha do "homem sem nome" criado para si por Sergio Leone. Mexemos com a cinefilia e isto nunca mais acaba...
Qualquer pretexto vale para rever este filme. Académico, é certo, mas apocalíptico como poucos. William Munny assombrará para sempre a história da sétima arte: outra figuração de fantasma – no caso, de anjo exterminador – das várias que Eastwood compôs na linha do "homem sem nome" criado para si por Sergio Leone. Mexemos com a cinefilia e isto nunca mais acaba...
Solar
A história contar-se-ia em pouco mais de meia-hora, caso eu esbanjasse todos os seus pormenores. Imagina, quem me conhece, como teria prazer em descrevê-la diversa todos os dias, preferencialmente à noite, porque o pessoal aos almoços faz demasiado barulho.
Tenho sobre a mesa a factura, no entanto dispenso-me de olhar para ela pois estão ainda comigo as impressões causadas por um arroz de polvo (malandrinho) que o picante caseiro de várias estrelas ajudou a transpor a fasquia da excelência; por um simples queijinho medianamente curado que mais se excedia em mimos quanto mais me aproximava da sua “casca”; e por um leite creme que até nem estava no programa, mas que se revelou da consistência do próprio céu... da boca.
As imperiais, entretanto, e o café, no final, acabaram por ser os únicos elementos vulgares de uma refeição privilegiada. Um café é sempre um café. Uma Superbock, idem. Mesmo neste Solar... que é diferente dos outros.
Tenho sobre a mesa a factura, no entanto dispenso-me de olhar para ela pois estão ainda comigo as impressões causadas por um arroz de polvo (malandrinho) que o picante caseiro de várias estrelas ajudou a transpor a fasquia da excelência; por um simples queijinho medianamente curado que mais se excedia em mimos quanto mais me aproximava da sua “casca”; e por um leite creme que até nem estava no programa, mas que se revelou da consistência do próprio céu... da boca.
As imperiais, entretanto, e o café, no final, acabaram por ser os únicos elementos vulgares de uma refeição privilegiada. Um café é sempre um café. Uma Superbock, idem. Mesmo neste Solar... que é diferente dos outros.
terça-feira, setembro 28, 2004
Samurai na sombra
Impossível não comparar o filme de Yoji Yamada, A sombra do samurai, cuja grande parte dos temas remete para a obra-prima, também ela crepuscular, Imperdoável, de Clint Eastwood. Existe, no entanto, uma profunda diferença na personalidade dos protagonistas que determina o curso dos dois filmes: no de Eastwood, assistimos à agonia e aos remorsos de Bill Munny que vive assombrado pelas mortes inscritas no seu cadastro de pistoleiro a soldo; já o samurai de Yamada é um homem apagado, sobretudo depois da morte da mulher (momento idêntico ao que faz despoletar o desejo de redenção de Bill Munny), que, vá-se lá saber por quê, dedicou a vida a um senhor feudal e ao seu clã, em vez de optar por ir buscar subsistência à pesca e à agricultura a tempo inteiro.
Se as trevas de Munny (Clint Eastwood numa interpretação para a eternidade) resultam do mal que este praticara no passado, as trevas de Seibei (o "guerreiro" triste de Yamada) foram-lhe impostas pelas agruras da vida, à revelia da sua vontade de dar nas vistas o menos possível. Munny é por isso um personagem muito mais fascinante na sua zona de sombras, e Eastwood gere prodigiosamente a culpa escavada pelo argumento de David Webb Peoples (antológico quando reportado à história do cinema) até à catarse final: onde Munny completa o arco que vai de mercenário a justiceiro, o que não é bem a mesma coisa... Por outro lado, o anti-herói de A sombra do samurai, de Yoji Yamada, ganha existência a partir da evocação da sua filha mais nova, no final mulher já idosa, que recorda a vida do pai como a vida de um homem bom que não fora mais distinto porque não tinha ambições.
Ao querer desmistificar o imaginário de bravura e honra dos samurais, Yamada arriscou transportar nas mãos um objecto que suscita menor interesse. A sombra do samurai é também uma sombra de filme. A banalidade e o academismo têm destas armadilhas mesmo com realizadores experimentados como Yoji Yamada.
Se as trevas de Munny (Clint Eastwood numa interpretação para a eternidade) resultam do mal que este praticara no passado, as trevas de Seibei (o "guerreiro" triste de Yamada) foram-lhe impostas pelas agruras da vida, à revelia da sua vontade de dar nas vistas o menos possível. Munny é por isso um personagem muito mais fascinante na sua zona de sombras, e Eastwood gere prodigiosamente a culpa escavada pelo argumento de David Webb Peoples (antológico quando reportado à história do cinema) até à catarse final: onde Munny completa o arco que vai de mercenário a justiceiro, o que não é bem a mesma coisa... Por outro lado, o anti-herói de A sombra do samurai, de Yoji Yamada, ganha existência a partir da evocação da sua filha mais nova, no final mulher já idosa, que recorda a vida do pai como a vida de um homem bom que não fora mais distinto porque não tinha ambições.
Ao querer desmistificar o imaginário de bravura e honra dos samurais, Yamada arriscou transportar nas mãos um objecto que suscita menor interesse. A sombra do samurai é também uma sombra de filme. A banalidade e o academismo têm destas armadilhas mesmo com realizadores experimentados como Yoji Yamada.
Dilema, aí pelas três da tarde
Diz o povo que "quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré". Agora, no momento da saída, pergunto-me, para o que terei eu nascido? ... ? ... ? ... ? ...
(take4) Antestreia em competição no próximo dia 1 de Outubro, pelas 21h30, no S. Jorge, integrado no festival IndieLisboa, o filme A CARA QUE MERECES
... de Miguel Gomes, com José Airosa, Gracinda Nave, Miguel Barroso, Pedro Caldas, João Nicolau, RICARDO GROSS, Rui Catalão, Manuel Mozos, António Figueiredo e Carloto Cotta.
«Francisco, porta-te bem! Sei que é o teu aniversário, já tens trinta anos, é Carnaval, estás vestido como um cowboy para a festa da escola e estás rodeado de miúdos que detestas. Mas não é razão para seres tão chato… Repete comigo: “Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces”.» (sinopse)
para mais informações: www.indielisboa.com
«Francisco, porta-te bem! Sei que é o teu aniversário, já tens trinta anos, é Carnaval, estás vestido como um cowboy para a festa da escola e estás rodeado de miúdos que detestas. Mas não é razão para seres tão chato… Repete comigo: “Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces”.» (sinopse)
para mais informações: www.indielisboa.com
segunda-feira, setembro 27, 2004
Em louvor dos grandes gestos e das coisas pequenas
AÍ PELAS TRÊS DA TARDE, de Raduan Nassar
para José Carlos Abbate (dedicatória do autor)
«Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom senso do mundo, aplicando-se em idéias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares à sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo "ciao" ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, e surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pêlo, mas sem ferir o decoro (o seu decoro, está claro), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assome em seguida no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances. Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado) e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá ao fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.»
Texto retirado do livro “Menina a Caminho”, Cotovia, 2000, págs. 71/72
para José Carlos Abbate (dedicatória do autor)
«Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom senso do mundo, aplicando-se em idéias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares à sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo "ciao" ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, e surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pêlo, mas sem ferir o decoro (o seu decoro, está claro), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assome em seguida no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances. Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado) e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá ao fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.»
Texto retirado do livro “Menina a Caminho”, Cotovia, 2000, págs. 71/72
domingo, setembro 26, 2004
Jogo sem balizas
Foi um bom resultado... para o Rio Ave. O Sporting teve uma equipa mas faltaram as individualidades: porque faltou um golo às exibições esforçadas de Douala e Pinilla.
Foi bom testemunhar um Enakarhire mais atrevido e igualmente intransponível. Este homem é um muro e é lindo vê-los cair atordoados à volta do nigeriano.
O Sporting não fez melhor do que o Benfica, ou seja, despontuou num jogo com poucas ocasiões de golo. Há que ultrapassar agora o Rapid e recomeçar a pontuar a sério com o Leiria. Quando a equipa se entrega como o fez hoje, a malta confia que melhores dias virão. Dias luminosos com os regressos de Roca e de Liedson.
FORÇA SPORTING, ALLEZ, ALLEZ!
Foi bom testemunhar um Enakarhire mais atrevido e igualmente intransponível. Este homem é um muro e é lindo vê-los cair atordoados à volta do nigeriano.
O Sporting não fez melhor do que o Benfica, ou seja, despontuou num jogo com poucas ocasiões de golo. Há que ultrapassar agora o Rapid e recomeçar a pontuar a sério com o Leiria. Quando a equipa se entrega como o fez hoje, a malta confia que melhores dias virão. Dias luminosos com os regressos de Roca e de Liedson.
FORÇA SPORTING, ALLEZ, ALLEZ!
sábado, setembro 25, 2004
A razões de McNamara em 11 lições
Como dizia Jean Renoir, todo o mundo tem as suas razões: e Robert S. (de Strange!) McNamara não é excepção ao mundo que tão fortemente foi influenciado pelo protagonismo desta grande figura da política, da indústria e da sociedade norte-americana. O excelente documentário de Errol Morris sobre o antigo Secretário da Defesa de Kennedy e de Johnson não procura dar qualquer tipo de resposta, não procura reduzir a uma qualquer fórmula cómoda, as grandes decisões de Robert McNamara, sobretudo as que tiveram lugar em situações de guerra. O próprio título, The fog of war, remete para a imensidão de variáveis que condicionam as intenções dos homens, e que por vezes lhes atribuem consequências imprevisíveis.Observamos que McNamara soube sempre responder à altura dos gigantescos desafios que a vida lhe colocou. Aos 85 anos, mostra-se ainda uma figura lúcida e apaixonante que faz questão de contar a sua vida à sua maneira. Trata-se de um grande líder e como todos eles não escapa à controvérsia. Mas Errol Morris é justo na abordagem que faz – ao longo de 11 capítulos que encerram cada qual o seu ensinamento – a todos os momentos cruciais da história da América onde a presença de McNamara foi determinante, devolvendo-nos uma imagem plena de informação e complexidade. Morris abusa da utilização da música circular de Philip Glass e também de jump-cuts e enquadramentos artísticos na entrevista que percorre todo o filme. Pormenores de pouca importância num trabalho que merece o muito reconhecimento já suscitado. Morris teve de ser grande para chegar a uma figura maior como Robert S. (de Strange!!) McNamara.
visto no festival IndieLisboa 2004.
visto no festival IndieLisboa 2004.
Em busca do sexo perdido
... e o festival IndieLisboa lá arrancou com o filme perfeito para a ocasião. Before sunset recupera o par de já menos jovens amantes nove anos depois, em Paris, para um ajuste de contas com a memória que cada um carrega do outro. Before sunset começa, a meu ver, mal e acaba, a meu ver, também mal. Após uma introdução à cidade de Paris tipo postal, somos colocados numa livraria à séria onde está a ser apresentado o livro de Jesse (Ethan Hawke, magnífico) baseado na sua breve história de amor de 24 horas com Celine (Julie Delpy) em Viena. Um jornalista pergunta a Jesse o que aconteceu depois ao casal do livro? Jesse responde que depende da atitude de quem lê: um cínico imaginará que eles se separam para não mais se encontrarem; um romântico acreditará num reencontro que os unirá para sempre. E reside aqui a chave de leitura de Before sunset: dependendo do nosso mood, assim se manifestará uma maior ou menor empatia e expectativa face ao reencontro de Jesse e Celine nove anos depois... Até porque uma vez assumido que ambos tiveram relações sexuais algures durante o dia passado em Viena, a questão é saber se voltarão a tê-las de novo ou não... ?
Nove anos depois, descobrimos Celine na figura de uma activista maníaco-depressiva que tem um gato chamado Che, e Jesse na pele de um escritor de “sucesso”, vagamente místico, que reconhece a derrota do seu casamento face à rotina das etapas que se lhe seguiram. Ambos, Jesse e Celine, continuam presos ao despertar da paixão de anos atrás e procedem a um inventário das suas vidas a partir daí. O filme de Richard Linklater mostra-nos um homem e uma mulher a conversarem ao longo de hora e meia, umas vezes mais alegres, outras mais tristes, reconhecendo ambos que existe algo que o tempo se encarregou de destruir nas suas vidas. Apesar do ressentimento, Before sunset deixa uma janela aberta para a postura mais cínica ou mais romântica do espectador. Hoje calhou-me estar mais tombado para o lado do cinísmo, razão pela qual embora reconhecendo que Linklater personifica, tal como Jesse, a figura do americano que gosta dos franceses – e Before sunset situa-se, neste aspecto, algures entre o cinema de Rohmer e o de Woody Allen –, não consegui deixar de achar o naturalismo evidenciado pelo filme demasiado under control. A partir do instante em que a questão central de Before sunset passa a ser a de se eles vão ter sexo uma vez mais ou não, a agenda torna-se previsível. Befrore sunset não aguenta a transição do retrato geracional em perda (na idade adulta) para uma qualquer tentativa de resgatar o passado pela recuperação do prazer físico. Qualquer pessoa madura está em condições de saber que na vida são irrecuperáveis os momentos em que o nosso coração se abriu pela primeira vez, e que por essa mesma razão o simulacro do cinema não perdeu um grama da sua importância enquanto referente de uma existência idealizada. O cinema permite-nos concretizar no mundo das sombras as oportunidades perdidas na vida real. O cinema é habitado pela orfandade. Pena que Before sunset ostente de forma tão óbvia a convicção de que a sua adopção estará garantida. Foi, imagino, o que sucedeu na sessão de abertura do IndieLisboa.
Nove anos depois, descobrimos Celine na figura de uma activista maníaco-depressiva que tem um gato chamado Che, e Jesse na pele de um escritor de “sucesso”, vagamente místico, que reconhece a derrota do seu casamento face à rotina das etapas que se lhe seguiram. Ambos, Jesse e Celine, continuam presos ao despertar da paixão de anos atrás e procedem a um inventário das suas vidas a partir daí. O filme de Richard Linklater mostra-nos um homem e uma mulher a conversarem ao longo de hora e meia, umas vezes mais alegres, outras mais tristes, reconhecendo ambos que existe algo que o tempo se encarregou de destruir nas suas vidas. Apesar do ressentimento, Before sunset deixa uma janela aberta para a postura mais cínica ou mais romântica do espectador. Hoje calhou-me estar mais tombado para o lado do cinísmo, razão pela qual embora reconhecendo que Linklater personifica, tal como Jesse, a figura do americano que gosta dos franceses – e Before sunset situa-se, neste aspecto, algures entre o cinema de Rohmer e o de Woody Allen –, não consegui deixar de achar o naturalismo evidenciado pelo filme demasiado under control. A partir do instante em que a questão central de Before sunset passa a ser a de se eles vão ter sexo uma vez mais ou não, a agenda torna-se previsível. Befrore sunset não aguenta a transição do retrato geracional em perda (na idade adulta) para uma qualquer tentativa de resgatar o passado pela recuperação do prazer físico. Qualquer pessoa madura está em condições de saber que na vida são irrecuperáveis os momentos em que o nosso coração se abriu pela primeira vez, e que por essa mesma razão o simulacro do cinema não perdeu um grama da sua importância enquanto referente de uma existência idealizada. O cinema permite-nos concretizar no mundo das sombras as oportunidades perdidas na vida real. O cinema é habitado pela orfandade. Pena que Before sunset ostente de forma tão óbvia a convicção de que a sua adopção estará garantida. Foi, imagino, o que sucedeu na sessão de abertura do IndieLisboa.
sexta-feira, setembro 24, 2004
Aritmética pop/ rock
ELYSIAN FIELDS igual a P.J. Harvey mais Morphine.
E o novo «dreams that breathe your name» da banda de Jennifer Charles e Oren Bloedow não defrauda as expectativas mais libidinosas, if you know what I mean... Amazzy star!!!!
E o novo «dreams that breathe your name» da banda de Jennifer Charles e Oren Bloedow não defrauda as expectativas mais libidinosas, if you know what I mean... Amazzy star!!!!
O rebelde (quem, eu?)
Uma vez que ninguém ligou patavina ao apelo postado aqui no blogue há vários dias atrás, sempre comprei «Michael Kohlhaas, o rebelde», de KLEIST, para averiguar das qualidades da obra e do seu autor.
Não estou a ser cínico. Tenho a certeza de que ficarei muito bem impressionado.
Não estou a ser cínico. Tenho a certeza de que ficarei muito bem impressionado.
(take3) Antestreia em competição no próximo dia 1 de Outubro, pelas 21h30, no S. Jorge, integrado no festival IndieLisboa, o filme A CARA QUE MERECES
... de Miguel Gomes, com José Airosa, Gracinda Nave, Miguel Barroso, Pedro Caldas, João Nicolau, RICARDO GROSS, Rui Catalão, Manuel Mozos, António Figueiredo e Carloto Cotta.
«Francisco, porta-te bem! Sei que é o teu aniversário, já tens trinta anos, é Carnaval, estás vestido como um cowboy para a festa da escola e estás rodeado de miúdos que detestas. Mas não é razão para seres tão chato… Repete comigo: “Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces”.» (sinopse)
para mais informações: www.indielisboa.com
«Francisco, porta-te bem! Sei que é o teu aniversário, já tens trinta anos, é Carnaval, estás vestido como um cowboy para a festa da escola e estás rodeado de miúdos que detestas. Mas não é razão para seres tão chato… Repete comigo: “Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces”.» (sinopse)
para mais informações: www.indielisboa.com
A lenda do capuchinho amarelo
Acabei esta noite de ver em The village/ A vila, de M. Night Shyamalan, a figuração mais original – aquela que não passaria pela cabeça de ninguém a não ser a do seu argumentista, produtor e realizador – da América actual e, por extensão, do mundo em que vivemos. A vila é um misto de filme fantástico, de falso filme de época, tem no centro uma belíssima história de amor e é um objecto que dá provas de uma tremenda fé nos atributos primitivos do cinema: no seu mistério e na vertigem primordial representada pelo medo: medo esse filmado também pelos três elementos fundadores – o escuro (não é por acaso que a heroína de A vila é cega...), o desconhecido (e que todos os habitantes da aldeia têm pânico de algo de que apenas ouviram falar...) e a morte (assinalada com a cor vermelha e com os diferentes rituais macabros).
A vila trata – se quisermos correspoinder à vontade de especular que o filme suscita – de um mundo actual em que as pessoas continuam a ser controladas e condicionadas nas suas vidas justamente pelo medo que vem da ignorância, que vem do desconhecimento, que adquire proporções de espectáculo na(s) morte(s) que diariamente instrumentalizam a informação e que por ela são também instrumentalizadas, remetendo-nos cada vez mais para os nossos preconceitos e para a nossa indiferença – todos os dias criam-se mundos à parte que nos ajudam a lidar com este mundo onde habitamos. Que M. Night Shyamalan consiga evocar todos estes temas com uma abordagem que remete para domínios do cinema e da mais (im)pura efabulação, eis o grande prodígio de A vila. Shyamalan agarra-nos logo desde o genérico com o magnetismo dos seus enquadramentos e movimentos de câmara, para não mais deixar de nos assombrar. Ele possui ainda o raro talento de convocar nunca de forma óbvia elementos do cinema de John Ford (Bryce Dallas Howard é a nova Maureen O’Hara!), Dreyer (alguém quase ressuscita...) e Hitchcock (lembrar-se-ão de Psico!) e dá-se ao requinte, por exemplo, de desviar o olhar da câmara no único momento em que o par do seu filme se beija. M. Night Shyamalan é um místico dum tempo anterior à própria invenção do cinema e, simultaneamente, um romântico para toda a eternidade. Esta sua lenda da paixão pura dum capuchinho amarelo que um dia venceu o medo, por amor, é um dos mais fascinantes filmes que vi em tempos já nem tão recentes assim. Digo-o agora que apenas começo a pensar nele...
A vila trata – se quisermos correspoinder à vontade de especular que o filme suscita – de um mundo actual em que as pessoas continuam a ser controladas e condicionadas nas suas vidas justamente pelo medo que vem da ignorância, que vem do desconhecimento, que adquire proporções de espectáculo na(s) morte(s) que diariamente instrumentalizam a informação e que por ela são também instrumentalizadas, remetendo-nos cada vez mais para os nossos preconceitos e para a nossa indiferença – todos os dias criam-se mundos à parte que nos ajudam a lidar com este mundo onde habitamos. Que M. Night Shyamalan consiga evocar todos estes temas com uma abordagem que remete para domínios do cinema e da mais (im)pura efabulação, eis o grande prodígio de A vila. Shyamalan agarra-nos logo desde o genérico com o magnetismo dos seus enquadramentos e movimentos de câmara, para não mais deixar de nos assombrar. Ele possui ainda o raro talento de convocar nunca de forma óbvia elementos do cinema de John Ford (Bryce Dallas Howard é a nova Maureen O’Hara!), Dreyer (alguém quase ressuscita...) e Hitchcock (lembrar-se-ão de Psico!) e dá-se ao requinte, por exemplo, de desviar o olhar da câmara no único momento em que o par do seu filme se beija. M. Night Shyamalan é um místico dum tempo anterior à própria invenção do cinema e, simultaneamente, um romântico para toda a eternidade. Esta sua lenda da paixão pura dum capuchinho amarelo que um dia venceu o medo, por amor, é um dos mais fascinantes filmes que vi em tempos já nem tão recentes assim. Digo-o agora que apenas começo a pensar nele...
quinta-feira, setembro 23, 2004
Hit the road, Elvis!
Ainda não estive com grande atenção às palavras das canções, devo confessar. O conceito que presidiu à feitura do novo ELVIS COSTELLO com os seus “impostores” também me escapa, assim de momento. Mas uma única audição foi suficiente para assegurar que tenho em mãos um dos melhores Costello de entre os melhores. Há qualquer coisa de muito “terra a terra” (não encontro melhor expressão) nas vozes esganadas, nas guitarras rasgadas, nos trambolhões do piano, no esgalhar dos órgãos, ups!, que está ao nível só dos que não têm nada mais a provar. Ah!, e tem a adorável Emmylou Harris que ilumina o espaço em volta na companhia apenas de Costello e de um ukelele.
«The delivery man» cheira-me que é disco para ouvir e fazer render... Já o mesmo não pode ser dito do seu pomposo, competente e previsível «Il sogno» (na Deutsche Grammophon): o bailinho da 5ª Avenida dirigido por Michael Tilson Thomas à frente da London Symphony Orchestra.
«The delivery man» cheira-me que é disco para ouvir e fazer render... Já o mesmo não pode ser dito do seu pomposo, competente e previsível «Il sogno» (na Deutsche Grammophon): o bailinho da 5ª Avenida dirigido por Michael Tilson Thomas à frente da London Symphony Orchestra.
Veludo frígido
K.D. LANG tem uma daquelas vozes tão perfeitamente aveludadas que podia dar-se ao luxo de “disparar” sobre quase tudo. Acontece que o seu novo disco, «Hymns of the 49th parallel», onde Lang interpreta canções de músicos seus conterrâneos e contemporâneos – Neil Young, Joni Mitchell, Jane Siberry, Leonard Cohen e Ron Sexsmith –, servida por apontamentos de orquestra, não me pareceu grande espingarda.
(take2) Antestreia em competição no próximo dia 1 de Outubro, pelas 21h30, no S. Jorge, integrado no festival IndieLisboa, o filme A CARA QUE MERECES
... de Miguel Gomes, com José Airosa, Gracinda Nave, Miguel Barroso, Pedro Caldas, João Nicolau, RICARDO GROSS, Rui Catalão, Manuel Mozos, António Figueiredo e Carloto Cotta.
«Francisco, porta-te bem! Sei que é o teu aniversário, já tens trinta anos, é Carnaval, estás vestido como um cowboy para a festa da escola e estás rodeado de miúdos que detestas. Mas não é razão para seres tão chato… Repete comigo: “Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces”.» (sinopse)
para mais informações: www.indielisboa.com
«Francisco, porta-te bem! Sei que é o teu aniversário, já tens trinta anos, é Carnaval, estás vestido como um cowboy para a festa da escola e estás rodeado de miúdos que detestas. Mas não é razão para seres tão chato… Repete comigo: “Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces”.» (sinopse)
para mais informações: www.indielisboa.com
quarta-feira, setembro 22, 2004
De génio :-) de louco :-)
Se não é da força do mito que me sugestiona, então o lendário SMILE de Brian Wilson é mesmo muito bom. Espécie de alinhamento irrequieto de motivos musicais (e corais), comporta-se como aquelas crianças que não conseguem fixar-se num brinquedo que lhes dêem para a mão: para elas, o que é bom mesmo é pegar e largar este e aquele, e mais aquele e mais aquele outro...
Não tem nada de esquisito, asseguro-vos! Será regressivo? Nem tanto... SMILE experimenta mas não se leva a sério. SMILE baralha mas não goza com quem o escuta. É mais gozo pessoal de escutar música de gente maluca.
O “mais famoso dos discos pop nunca editados” sai na próxima 2ª feira, 27. Nessa altura já seremos menos os que agora riem sozinhos.
Não tem nada de esquisito, asseguro-vos! Será regressivo? Nem tanto... SMILE experimenta mas não se leva a sério. SMILE baralha mas não goza com quem o escuta. É mais gozo pessoal de escutar música de gente maluca.
O “mais famoso dos discos pop nunca editados” sai na próxima 2ª feira, 27. Nessa altura já seremos menos os que agora riem sozinhos.
Just the beginning...
A "casa" enchufada está no começo. 1-UIK PROJECT (leia-se "one week") de Kalaf e Lil'John é o primeiro disco a promover: poesia, electrónica, kizomba intelectual, diáspora asfaltada, fazer bem e depressa, voz quente, rima rápida, impressão forte.
O mestiço é o futuro do homem. Na música é já o presente. 1-UIK PROJECT é disco para ouvir AGORA.
www.enchufada.com (têm blogue e tudo...)
O mestiço é o futuro do homem. Na música é já o presente. 1-UIK PROJECT é disco para ouvir AGORA.
www.enchufada.com (têm blogue e tudo...)
Caramba ou este post eu gostava de ter escrito
«Música de fundo ou Ó Esteves, vê lá se dizes alguma coisa de jeito
Ainda o Público. Já vos aconteceu estar a ler um livro e reparar, várias páginas depois, que não se lembram de nada, que não estiveram a prestar atenção, que têm possivelmente de voltar atrás? Ou notícias e crónicas de jornal? A mim está-me sempre a acontecer. Um bípede está a ler e ao mesmo tempo põe-se a pensar na vidinha. Aquelas palavras impressas são uma espécie de música de fundo. Estamos a ouvi-la, o nosso inconsciente talvez, sei lá, não interessa, mas não lhe prestamos atenção. Só reparamos nela quando o disco acaba (há sempre a opção repeat, para os mais preguiçosos). Uma vez mais, aconteceu-me isso com o Público. Cheguei ao fim e não me lembrava de nada. Tinha-me perdido a ruminar no que ia fazer para o almoço, no que ainda tinha de fazer antes disso, o eléctrico que tenho de apanhar, na maldita tradução em que me meti, talvez telefonar ao calhas, ver um programa qualquer da manhã, ouvir o fórum da TSF, dar milho aos pombos, ficar à janela a assobiar às gajas que passam, mandar bocas. Nestas alturas sinto-me um Álvaro de Campos muito melhor do que o original. Pensamentos profundíssimos invadem-me a testa, eurekas a dar c’um pau, mais sonhos que Napoleão, mais humanidade no peito que Cristo, mais filosofia na minha capoeira que em todos os livros do Immanuel traduzidos pela Fundação Calouste Gulbenkian.O problema é quando abrimos a boca, quando bocejamos. O bocejo, como sabemos, é um exercício involuntário do direito de crítica. Mas não nos resolve esta dúvida primordial: será que é do livro, do jornal que estamos a ler ou da nossa vidinha tão desgraçadamente desinteressante. Ou serão as duas? Vou ali perguntar ao Esteves da tabacaria e já venho...»
JOÃO PEDRO (GEORGE) em http://esplanar.blogspot.com/
Outras provas do humor e da erudição de João Pedro George DEVEM ser procuradas nas revistas Livros e Periférica, e na sua obra de análise sobre o meio literário português.
Ainda o Público. Já vos aconteceu estar a ler um livro e reparar, várias páginas depois, que não se lembram de nada, que não estiveram a prestar atenção, que têm possivelmente de voltar atrás? Ou notícias e crónicas de jornal? A mim está-me sempre a acontecer. Um bípede está a ler e ao mesmo tempo põe-se a pensar na vidinha. Aquelas palavras impressas são uma espécie de música de fundo. Estamos a ouvi-la, o nosso inconsciente talvez, sei lá, não interessa, mas não lhe prestamos atenção. Só reparamos nela quando o disco acaba (há sempre a opção repeat, para os mais preguiçosos). Uma vez mais, aconteceu-me isso com o Público. Cheguei ao fim e não me lembrava de nada. Tinha-me perdido a ruminar no que ia fazer para o almoço, no que ainda tinha de fazer antes disso, o eléctrico que tenho de apanhar, na maldita tradução em que me meti, talvez telefonar ao calhas, ver um programa qualquer da manhã, ouvir o fórum da TSF, dar milho aos pombos, ficar à janela a assobiar às gajas que passam, mandar bocas. Nestas alturas sinto-me um Álvaro de Campos muito melhor do que o original. Pensamentos profundíssimos invadem-me a testa, eurekas a dar c’um pau, mais sonhos que Napoleão, mais humanidade no peito que Cristo, mais filosofia na minha capoeira que em todos os livros do Immanuel traduzidos pela Fundação Calouste Gulbenkian.O problema é quando abrimos a boca, quando bocejamos. O bocejo, como sabemos, é um exercício involuntário do direito de crítica. Mas não nos resolve esta dúvida primordial: será que é do livro, do jornal que estamos a ler ou da nossa vidinha tão desgraçadamente desinteressante. Ou serão as duas? Vou ali perguntar ao Esteves da tabacaria e já venho...»
JOÃO PEDRO (GEORGE) em http://esplanar.blogspot.com/
Outras provas do humor e da erudição de João Pedro George DEVEM ser procuradas nas revistas Livros e Periférica, e na sua obra de análise sobre o meio literário português.
terça-feira, setembro 21, 2004
Um postal do cinema
De: Viktor Navorski
JFK
Porta 67
Nova Iorque
EUA
Terminal de Aeroporto é um Spielberg menor, da América para o mundo.
JFK
Porta 67
Nova Iorque
EUA
Terminal de Aeroporto é um Spielberg menor, da América para o mundo.
Antestreia em competição no próximo dia 1 de Outubro, pelas 21h30, no S. Jorge (sala 1), integrado no festival IndieLisboa, o filme A CARA QUE MERECES
... de Miguel Gomes, com José Airosa, Gracinda Nave, Miguel Barroso, Pedro Caldas, João Nicolau, RICARDO GROSS, Rui Catalão, Manuel Mozos, António Figueiredo e Carloto Cotta.
«Francisco, porta-te bem! Sei que é o teu aniversário, já tens trinta anos, é Carnaval, estás vestido como um cowboy para a festa da escola e estás rodeado de miúdos que detestas. Mas não é razão para seres tão chato… Repete comigo: “Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces”.» (sinopse)
para mais informações: www.indielisboa.com
«Francisco, porta-te bem! Sei que é o teu aniversário, já tens trinta anos, é Carnaval, estás vestido como um cowboy para a festa da escola e estás rodeado de miúdos que detestas. Mas não é razão para seres tão chato… Repete comigo: “Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces”.» (sinopse)
para mais informações: www.indielisboa.com
A insustentável desculpa com o Sistema
Hoje à noite, Alvalade registava 28.631 espectadores. No final da derrota com o Marítimo, eram 28.630 os descontentes. O Sr. Dias da Cunha provavelmente continuará a atribuir responsabilidades ao Sistema que não larga o Sporting. Triste sina a nossa.
p.s. ficou claro que faço parte dos 28 mil descontentes?
p.s. ficou claro que faço parte dos 28 mil descontentes?
segunda-feira, setembro 20, 2004
sms
EIS A VERDADE: convenceste-me a ver este Spielberg. Se for inspirado como esse teu AEROPORTO... Abr
a "pista": www.jpcoutinho.com
a "pista": www.jpcoutinho.com
My guru
Poucas coisas equivalem no prazer que dão à redescoberta de um disco que nos pareça hoje tão bom como da primeira vez que o ouvimos: no caso, à volta de 2001/ 2002. «Neon Golden», dos NOTWIST, é mais uma referência que devo agradecer ainda uns bons anos ao João Lisboa, do Expresso, que os mais chegados sabem que carinhosamente trato por "meu guru". O João tem andado um pouco apagado em tempos recentes (talvez ande desiludido com a música de hoje, sabe-se lá...), mas a sua importância para o meu reingresso na pop em finais de 80 foi determinante. Os textos do João convenceram-me de que a música pop era também coisa de pessoas cultas e inteligentes, pardon my immodesty.
domingo, setembro 19, 2004
Bugsy Siegel está morto
Zappando pelos canais da TV Cabo apanho com a última meia-hora de Bugsy, de Barry Levinson, no Hollywood. Nunca mais vira o filme desde a estreia que correspondeu à inauguração das salas Warner/ Lusomundo do Cascaishopping. Poucos segundos depois e eu preso às imagens fotografadas por Allen Daviau ao jeito de Vittorio Storaro, pelo carisma de Warren Beatty e pela música enleante de Ennio Morricone.
Já não recordo a minha impressão de quando vi o filme pela primeira vez há mais de dez anos atrás. Acontece que hoje fiquei agarrado até ao final, lamentando não ter revisto Bugsy na íntegra. A história de um homem que vivia num mundo sonhado onde o amor pela(s) mulher(es) talvez fosse o único elemento que prendia Bugsy à realidade.
Mais um personagem maior do que a vida que, parece-me, Barry Levinson soube filmar à altura justa do mito.
Já não recordo a minha impressão de quando vi o filme pela primeira vez há mais de dez anos atrás. Acontece que hoje fiquei agarrado até ao final, lamentando não ter revisto Bugsy na íntegra. A história de um homem que vivia num mundo sonhado onde o amor pela(s) mulher(es) talvez fosse o único elemento que prendia Bugsy à realidade.
Mais um personagem maior do que a vida que, parece-me, Barry Levinson soube filmar à altura justa do mito.
Pinheiro para o séc. XXI
A passagem do tempo sobre a grata descoberta do CD de estreia do compositor-guitarrista Chico Pinheiro e convidados, Meia-Noite Meio-Dia, só vem confirmar as minhas suspeitas de que se trata do melhor disco de música brasileira saído depois de Livro, de Caetano Veloso. É tão incrivelmente bom que as três faixas que contam com a participação vocal de Maria Rita, se incluídas no belo disco de estreia desta, se destacariam do resto do seu repertório.
Uma obra-prima confirmada é coisa rara. Este vale a pena pedir lá para fora dê lá por onde der...
Uma obra-prima confirmada é coisa rara. Este vale a pena pedir lá para fora dê lá por onde der...
O fugitivo
Apetecia-me algo... Um filme de acção que não fosse inteiramente mentecapto. Entrei na sessão de Supremacia/ The Bourne Supremacy, segundo tomo das aventuras do espião criado por Robert Ludlum. As presenças de Joan Allen e Brian Cox funcionaram como isco. Mas o que mordi era afinal mais da ordem da série televisiva do que do cinema. Quase duas horas a ver um indivíduo a fugir de Goa a Berlim, de Berlim a Moscovo, de Moscovo a Nova Iorque, de... Ainda para mais a câmara de Paul Greengrass, o realizador, sofria de uma tremideira muitas vezes irritante.
Desconhecendo o episódio inaugural das aventuras de Jason Bourne (Matt Damon, convincente q.b.), senti-me a invadir o enredo já a meio, e no final repetiu-se a sensação de que algo ficara por cumprir: ah(!), ainda existe um terceiro livro, ainda bem que avisam...
Prá semana a hipótese de desforra terá por objecto o novo filme de Tony Scott com Denzel Washington, Man on fire. O trailer promete...
Desconhecendo o episódio inaugural das aventuras de Jason Bourne (Matt Damon, convincente q.b.), senti-me a invadir o enredo já a meio, e no final repetiu-se a sensação de que algo ficara por cumprir: ah(!), ainda existe um terceiro livro, ainda bem que avisam...
Prá semana a hipótese de desforra terá por objecto o novo filme de Tony Scott com Denzel Washington, Man on fire. O trailer promete...
Quilate
Embora não esteja delapidado até ao grau de máxima pureza, o novo High, dos Blue Nile, garantiu já um lugar de destaque junto dos melhores discos pop de 2004: Junior Boys, Post Industrial Boys e Telefon Tel Aviv.
sábado, setembro 18, 2004
Uma vida quase normal
Apetece-me escrever já sobre um filme que vi hoje. Como tenho disponibilidade, perfeito. O título não podia ser mais esclarecedor: About Schmidt/ As confissões de Schmidt. O filme começa nos derradeiros segundos do último dia de trabalho de Warren Schmidt (Jack Nicholson), e o protagonista enverga um semblante aborrecido. Imaginamos que está enfadado com o trabalho (a contar os segundos que faltam para ir-se embora...), mas estamos completamente errados. O que Schmidt realmente receia é a vida que o espera do outro lado da porta: vida de reformado. Não mais casa trabalho trabalho casa; não mais a preocupação exclusiva com os negócios da seguradora, enfim, o que fazer quando aquilo que julgamos dar todo o significado à nossa vida termina? Uma vez reformado, Schmidt começa até a sentir um certo asco pela mulher com quem está casado há 42 anos, Helen, que sempre lhe garantiu o jantarinho a horas. Schmidt está como é costume dizer-se, na merda. E talvez por isso se ponha a enviar dinheiro para África, todos os meses, através de uma associação de ajuda humanitária, que embora se destine a ajudar à educação de uma criança orfã em particular, Schmidt fá-lo sobretudo para poder desabafar nas cartas onde junta o cheque com os 22 dólares, todo o ressentimento acumulado ao fim de 66 anos de vida.
Schmidt tem ainda uma filha de que mais ou menos se desligara, que está prestes a casar com um tanso de Denver (Dermot Mulroney, quase irreconhecível) que vende colchões de água topo de gama. É aqui que começa o 2º acto do filme de Alexander Payne, com a viagem de Schmidt, de Omaha até Denver, para tentar impedir o casamento da filha e a integração desta no seio garrido de uma família meio estúpida meio hippie, logo, mais do que demasiado excêntrica para os padrões conservadores do nosso Warren Schmidt. Já em Denver, As confissões de Schmidt adquire contornos de comédia que não faz rir (são as melhores!) deixando-nos em suspenso, aguadando pelo momento em que o nosso herói, o nosso pioneiro em crise de bravura, irá explodir...
Já que insistem, a minha opinião sobre As confissões de Schmidt é... Depois de tanto teclar, é óbvio que gostei do filme, caso contrário tê-lo-ia arrasado em meia dúzia de linhas como é meu estilo. E do que gostei mais foi mesmo do tom de comédia sisuda que perpassa por todo ele, aliás à imagem da inexpressividade do protagonista, figura americana até à raiz dos poucos cabelos que penteia com risco ao lado, extremamente sedutora no seu acervo de preconceitos, justamente porque o colocam à beira da caricatura que Schmidt nunca chega a ser. O mesmo se aplica à restante galeria de personagens onde pontifica a figura da matriarca freak interpretada por Kathy Bates (que tal como Nicholson recebeu um Oscar pelo desempenho neste filme), que não tem vergonha de ostentar toda a sua nudez de banhas e a sua sexualidade pneumática, mergulhada num jacuzzi privado, e na frente do atónito Warren Schmidt.
As confissões de Schmidt é ainda um filme irresistível para os que amam os Estados Unidos da América pela riqueza dos contrastes e pelas suas contradições. É parcialmente um road-movie cheio de pequenas surpresas que destoam do longo bocejo da normalidade. Nada contra o bocejo, entendamo-nos! A velhice será com certeza a melhor das alturas se soubermos viver com ela e se tivermos condições de regressar ao desfrute do luxo que é fazer (quase) nada. Enquanto a velhice se demora, é entretermo-nos, por exemplo, com este originalíssimo filme de Alexander Payne.
Schmidt tem ainda uma filha de que mais ou menos se desligara, que está prestes a casar com um tanso de Denver (Dermot Mulroney, quase irreconhecível) que vende colchões de água topo de gama. É aqui que começa o 2º acto do filme de Alexander Payne, com a viagem de Schmidt, de Omaha até Denver, para tentar impedir o casamento da filha e a integração desta no seio garrido de uma família meio estúpida meio hippie, logo, mais do que demasiado excêntrica para os padrões conservadores do nosso Warren Schmidt. Já em Denver, As confissões de Schmidt adquire contornos de comédia que não faz rir (são as melhores!) deixando-nos em suspenso, aguadando pelo momento em que o nosso herói, o nosso pioneiro em crise de bravura, irá explodir...
Já que insistem, a minha opinião sobre As confissões de Schmidt é... Depois de tanto teclar, é óbvio que gostei do filme, caso contrário tê-lo-ia arrasado em meia dúzia de linhas como é meu estilo. E do que gostei mais foi mesmo do tom de comédia sisuda que perpassa por todo ele, aliás à imagem da inexpressividade do protagonista, figura americana até à raiz dos poucos cabelos que penteia com risco ao lado, extremamente sedutora no seu acervo de preconceitos, justamente porque o colocam à beira da caricatura que Schmidt nunca chega a ser. O mesmo se aplica à restante galeria de personagens onde pontifica a figura da matriarca freak interpretada por Kathy Bates (que tal como Nicholson recebeu um Oscar pelo desempenho neste filme), que não tem vergonha de ostentar toda a sua nudez de banhas e a sua sexualidade pneumática, mergulhada num jacuzzi privado, e na frente do atónito Warren Schmidt.
As confissões de Schmidt é ainda um filme irresistível para os que amam os Estados Unidos da América pela riqueza dos contrastes e pelas suas contradições. É parcialmente um road-movie cheio de pequenas surpresas que destoam do longo bocejo da normalidade. Nada contra o bocejo, entendamo-nos! A velhice será com certeza a melhor das alturas se soubermos viver com ela e se tivermos condições de regressar ao desfrute do luxo que é fazer (quase) nada. Enquanto a velhice se demora, é entretermo-nos, por exemplo, com este originalíssimo filme de Alexander Payne.
sexta-feira, setembro 17, 2004
Juro que quero ser CAPAZ de acreditar neste homem
«(...) Estamos num processo de adaptação e com tempo seremos uma equipa mais capaz (...)Houve muita ansiedade no início de jogo, devido à hiper-valorização do que aconteceu em Setúbal. De qualquer das formas não faltou empenho e entrega, e com dez jogadores fomos uma equipa mais inteligente e capaz e conseguimos controlar melhor o jogo.»
JOSÉ PESEIRO em www.sporting.pt
JOSÉ PESEIRO em www.sporting.pt
Penúria
“É curioso verificar como certas pessoas pensam que têm todo o direito de nos dirigir sermões e de nos fazer ouvir as suas rezas mal os nossos rendimentos descem abaixo de certo nível.” (George Orwell, NA PENÚRIA EM PARIS E EM LONDRES, Antígona 2003)
Nas férias li «Recordando a Guerra Espanhola», também edição da Antígona. Talvez fosse boa ideia começar agora a ler este livro. You never know... do I?
www.antigona.pt
Nas férias li «Recordando a Guerra Espanhola», também edição da Antígona. Talvez fosse boa ideia começar agora a ler este livro. You never know... do I?
www.antigona.pt
Eu não sou o teu pai
Lamento não perfilhar o filme ANDRÉ VALENTE da Catarina Ruivo, minha ex-colega da Escola de Cinema. É que alguns filmes parecem pedir-nos de modo mais explícito que os adoptemos. E esta obra da Catarina é assim, um poema à infância e ao espaço suburbano que procura espectadores disponíveis para as suas discretas fulgurâncias. ANDRÉ VALENTE é como que feito de versos sacudidos, colagem de momentos mais e menos íntimos que decorre também do trabalho de montadora da Catarina Ruivo que se prolonga para além desta sua estreia na realização.
Mas gostei de Rita Durão e fui sensível sobretudo à relação ensaiada por André (Leonardo Viveiros) e pelo imigrante russo (Dimitry Bogomolov): o plano dos dois no chuveiro do pavilhão desportivo é o melhor momento do filme. O resto é um fazer poesia com a vida do subúrbio que se não me implicou mais é porque talvez resulte de um olhar encantado sobre uma realidade que necessitará(?) de se impregnar na pele antes de a podermos passar a película.
Dar alma às imagens é o mais difícil. Dar consistência dramática a um objecto deliberadamente fragmentário, impressionista, também. Será isto o que nos mantém ligados a qualquer filme que queira ir além da proposta de entretenimento. O esforço de Catarina está lá, embora ANDRÉ VALENTE seja para mim uma intermitência de vida(s) numa intermitência de arte.
OUTRAS REACÇÕES; ESTAS ESPECIALIZADAS* (à passagem do filme por Locarno):
(...) O primeiro, André Valente (em competição), consagra admiravelmente a passagem de Catarina Ruivo à longa-metragem, uma realizadora portuguesa de 33 anos. Produzido por Paulo Branco, este filme conta uma história de educação de uma justeza e de uma intensidade emocional singular. Um miúdo de oito anos tem de aprender a viver e a crescer na ausência brutal de um pai que acaba de deixar o lar conjugal.
Longe de redimir a perda inicial, os personagens que o rapaz encontra - uma amiguinha, o novo amante da mãe, um patinador russo que tem contas a ajustar com a máfia - são igualmente figuras que reiteram a experiência do abandono.
Melancólico e desarmónico, este lindíssimo filme não se contenta apenas com o desgosto; sugere simplesmente, com uma doçura por vezes pontuada de humor, que o Homem se constrói na prova da ausência, e que a graça da vida consiste justamente no construir neste inexorável desencanto. Leonardo Viveiros, que interpreta André Valente, compõe a figura de um miúdo que deveria ficar na história do cinema. (...)
Jacques Mandelbaum, LE MONDE, 15 de Agosto 2004
Em competição, e portanto ignorada por um júri snob topo de gama (entre os quais Olivier Assayas, Yu Lik-wai e Udo Kier), ANDRÉ VALENTE revelou uma jovem cineasta portuguesa, Catarina Ruivo, capaz de evitar com a elegância duma ginasta toda a comoção e os bons sentimentos que o seu argumento poderiam conter. André tem oito anos, um pai ausente e uma mãe numa linha de flutuação instável. Tentado, em primeiro lugar, a encontrar junto de um emigrante russo patinador o amparo idóneo para se apoiar, vai transformar a própria ausência destes substitutos na possibilidade de se inscrever no mundo. Desempenhado por uma criança actor capaz de tudo, André Valente alia a propensão para a pura contemplação e os sentidos apurados da montagem. Primeiro filme, primeiro prémio de montagem.(...)
Bertrand Loutte, LES INROCKUPTIBLES, 25-31 de Agosto 2004
* retiradas de uma newsletter da Atalanta Filmes.
Mas gostei de Rita Durão e fui sensível sobretudo à relação ensaiada por André (Leonardo Viveiros) e pelo imigrante russo (Dimitry Bogomolov): o plano dos dois no chuveiro do pavilhão desportivo é o melhor momento do filme. O resto é um fazer poesia com a vida do subúrbio que se não me implicou mais é porque talvez resulte de um olhar encantado sobre uma realidade que necessitará(?) de se impregnar na pele antes de a podermos passar a película.
Dar alma às imagens é o mais difícil. Dar consistência dramática a um objecto deliberadamente fragmentário, impressionista, também. Será isto o que nos mantém ligados a qualquer filme que queira ir além da proposta de entretenimento. O esforço de Catarina está lá, embora ANDRÉ VALENTE seja para mim uma intermitência de vida(s) numa intermitência de arte.
OUTRAS REACÇÕES; ESTAS ESPECIALIZADAS* (à passagem do filme por Locarno):
(...) O primeiro, André Valente (em competição), consagra admiravelmente a passagem de Catarina Ruivo à longa-metragem, uma realizadora portuguesa de 33 anos. Produzido por Paulo Branco, este filme conta uma história de educação de uma justeza e de uma intensidade emocional singular. Um miúdo de oito anos tem de aprender a viver e a crescer na ausência brutal de um pai que acaba de deixar o lar conjugal.
Longe de redimir a perda inicial, os personagens que o rapaz encontra - uma amiguinha, o novo amante da mãe, um patinador russo que tem contas a ajustar com a máfia - são igualmente figuras que reiteram a experiência do abandono.
Melancólico e desarmónico, este lindíssimo filme não se contenta apenas com o desgosto; sugere simplesmente, com uma doçura por vezes pontuada de humor, que o Homem se constrói na prova da ausência, e que a graça da vida consiste justamente no construir neste inexorável desencanto. Leonardo Viveiros, que interpreta André Valente, compõe a figura de um miúdo que deveria ficar na história do cinema. (...)
Jacques Mandelbaum, LE MONDE, 15 de Agosto 2004
Em competição, e portanto ignorada por um júri snob topo de gama (entre os quais Olivier Assayas, Yu Lik-wai e Udo Kier), ANDRÉ VALENTE revelou uma jovem cineasta portuguesa, Catarina Ruivo, capaz de evitar com a elegância duma ginasta toda a comoção e os bons sentimentos que o seu argumento poderiam conter. André tem oito anos, um pai ausente e uma mãe numa linha de flutuação instável. Tentado, em primeiro lugar, a encontrar junto de um emigrante russo patinador o amparo idóneo para se apoiar, vai transformar a própria ausência destes substitutos na possibilidade de se inscrever no mundo. Desempenhado por uma criança actor capaz de tudo, André Valente alia a propensão para a pura contemplação e os sentidos apurados da montagem. Primeiro filme, primeiro prémio de montagem.(...)
Bertrand Loutte, LES INROCKUPTIBLES, 25-31 de Agosto 2004
* retiradas de uma newsletter da Atalanta Filmes.
Esta se calhar ainda passamos?
Não é ocasião para festejos. O resultado é enganador. Jogou-se mau futebol esta noite em Alvalade. Há medida que o tempo ia passando e os golos não surgiam, o Sporting mostrava-se cada vez mais desgovernado, atabalhoado, trapalhão como há muito eu não via... Parece que os indícios e alguns bons apontamentos de Inglaterra, do Bessa e do jogo inaugural com o Gil Vicente não passaram disso mesmo.
Hoje os homens a destacar pela excepção foram Ricardo, Polga (apesar do vermelho), Rogério, Tinga e Liedson. Plantel desiquilibrado (Pinilla é tabu, não se fala mais nisso) e escasso em soluções: lamento que mesmo quando passar a integrar os lesionados. MAS AGORA ATENÇÃO SPORTINGUISTAS, QUE O ELO MAIS FRACO PARECE-ME SER O SR. JOSÉ PESEIRO. Safou-se com um 2-0 mas já não se safa às análises mais incisivas sobre este Sporting que tarda em mostrar-se uma equipa vitoriosa e... regular. Pior que nós só o Rapid e, sobretudo, a equipa de arbitragem que roçou o caricato.
Hoje os homens a destacar pela excepção foram Ricardo, Polga (apesar do vermelho), Rogério, Tinga e Liedson. Plantel desiquilibrado (Pinilla é tabu, não se fala mais nisso) e escasso em soluções: lamento que mesmo quando passar a integrar os lesionados. MAS AGORA ATENÇÃO SPORTINGUISTAS, QUE O ELO MAIS FRACO PARECE-ME SER O SR. JOSÉ PESEIRO. Safou-se com um 2-0 mas já não se safa às análises mais incisivas sobre este Sporting que tarda em mostrar-se uma equipa vitoriosa e... regular. Pior que nós só o Rapid e, sobretudo, a equipa de arbitragem que roçou o caricato.
quinta-feira, setembro 16, 2004
Estraga prazeres (1psk)
ALGUÉM ME EXPLICA? A narrativa mostra-se fascinante, mas depois de José Mário Silva dar-se ao trabalho de descrever todas as peripécias do livro «Michael Kohlhaas, o Rebelde», de Heinrich von Kleist, no DN de hoje ( LINK: http://dn.sapo.pt/noticia/noticia.asp?CodNoticia=169631&codEdicao=1236&CodAreaNoticia=13 ), que motivos sobram para comprarmos o livro? Sobretudo para o lermos?
Mehldau acaba sozinho
O novo (novíssimo) “solo piano” de BRAD MEHLDAU, «Live in Tokyo», é um disco moderado pela razão imoderada onde o pulmão arrasa o coração. O cavalo Mehldau só pára para descansar nas duas últimas faixas - «How long has this been going on?» e «River man» (e nesta torna a galopar) -, pelo que é natural que muitos desistam antes do fim da corrida.
dá saudades do trio...
dá saudades do trio...
quarta-feira, setembro 15, 2004
Dedicatória
«To ( ) – who is so creative – so enthusiastic – so appreciative of the small and large things of life – who is so intuitive – may you find the low as well as the highlights of life in this book.
I marked some passages – then – I thought – let ( ) mark the passages that appeal to her.
Love,
( )»*
Comprar livros em segunda mão – sobretudo através da Internet – é entrar num mundo por vezes misterioso (quando compramos não sabemos o que vamos encontrar, ou melhor, como o vamos encontrar...). Os mistérios deste mundo provocam-me algum fascínio. O fascínio de saber, por exemplo, que histórias estão por detrás das dedicatórias que os livros por vezes têm e que são factor de desvalorização dos mesmos: no caso, a edição de capa dura de «Enthusiasms» (Crown Publishers, 1983), de Bernard Levin, livro raro (também com raros sublinhados: referidos, aliás, na dedicatória), em estado muito aceitável, ficou-me, descontados os portes, por menos de uma libra. Um livro que um dia alguém recebeu de oferta e que não terá estimado a pontos de se desfazer dele ou, mais triste ainda, de alguém se ter desfeito dele por essa mesma pessoa que poderá hoje já nem estar viva. O mistério persiste e ainda não entrei sequer nas páginas do livro propriamente dito.
* A omissão dos nomes até podia ser fruto de pudor, mas ainda que tal não fosse eu não conseguiria decifrá-los. Melhor assim.
I marked some passages – then – I thought – let ( ) mark the passages that appeal to her.
Love,
( )»*
Comprar livros em segunda mão – sobretudo através da Internet – é entrar num mundo por vezes misterioso (quando compramos não sabemos o que vamos encontrar, ou melhor, como o vamos encontrar...). Os mistérios deste mundo provocam-me algum fascínio. O fascínio de saber, por exemplo, que histórias estão por detrás das dedicatórias que os livros por vezes têm e que são factor de desvalorização dos mesmos: no caso, a edição de capa dura de «Enthusiasms» (Crown Publishers, 1983), de Bernard Levin, livro raro (também com raros sublinhados: referidos, aliás, na dedicatória), em estado muito aceitável, ficou-me, descontados os portes, por menos de uma libra. Um livro que um dia alguém recebeu de oferta e que não terá estimado a pontos de se desfazer dele ou, mais triste ainda, de alguém se ter desfeito dele por essa mesma pessoa que poderá hoje já nem estar viva. O mistério persiste e ainda não entrei sequer nas páginas do livro propriamente dito.
* A omissão dos nomes até podia ser fruto de pudor, mas ainda que tal não fosse eu não conseguiria decifrá-los. Melhor assim.
Frisell makes us dizzy
O novo disco de BILL FRISELL - «Unspeakable», produzido pelo lendário Hal Willner (Lou Reed, Marianne Faithfull, Lost in the Stars, Weird Nightmare) - é TÃO longo e TÃO variado que um indivíduo vai do aborrecimento ao entusiasmo, da indiferença à atenção, do interesse à perplexidade, sem chegar a qualquer lado.
Conclusão? Não há conclusão.
Conclusão? Não há conclusão.
«Antes de Tempo» (04/09/04)
De tudo o que li na imprensa durante as férias – diariamente chegavam os jornais do dia anterior... – destaco este texto de JOÃO CARLOS ESPADA, no Expresso.
DECLÍNIO DO OCIDENTE?
«No regresso de férias, um tema inevitável é a algazarra acerca da chamada “colocação dos professores”. O espectáculo é totalmente absurdo, porque o próprio tema é absurdo. As escolas – cada escola – deviam tratar da contratação dos seus próprios professores. O sistema centralizado que temos – talvez inspirado no “modelo soviético” – só pode produzir os resultados que todos os anos se repetem. Com medo dos sindicatos e da comunicação social, todos os governos mantêm o sistema. É muito edificante.
Outra telenovela curiosa é a do chamado “barco do aborto”. Os noticiários não falam de outra coisa. Na TSF, um repórter, que visitou o barquinho, dizia que «apesar das dificuldades, o ânimo é elevado». Não duvido. Uma mulher da tripulação até dizia “we are having fun”.
Apetece perguntar, como Zita Seabra no «Público» de domingo passado, por que não vão “to have fun” para a Argélia, ou a Arábia Saudita, ou o Irão, ou outros países islâmicos, onde as mulheres são obrigadas a casar com maridos que não conhecem, ou condenadas à morte por apedrejamento, acusadas de adultério?
Não, isso o “barco do aborto” não faz. Porque isso seria fundamentalismo cristão: impor aos militantes islamitas, explorados e oprimidos pela globalização e o capitalismo, os padrões ocidentais. Isso é o que fazem “o Bush” e “a extrema-direita americana”, como não se cansam de repetir os noticiários. É deliciosa esta reminiscência do PREC, em que todos os que não eram pela “revolução” eram “fascistas”. E lá marcham eles, com o cão, o gato e o periquito, contra “o Bush”. Desde o saudoso Ronald Reagan, nenhum outro Presidente americano tinha o privilégio de reunir tanta tropa fandanga contra si.
Entretanto, só no dia de quarta-feira passada, os jornais noticiavam: 12 reféns nepaleses assassinados no Iraque por um grupo islâmico; 16 civis israelitas mortos e 90 feridos em dois autocarros atacados por “kamikazes” palestinianos; 8 civis moscovitas mortos e 25 feridos por “kamikazes” tchetchenos, numa estação de Metro do centro de Moscovo; e mais de 100 crianças reféns também por terroristas tchetchenos. Uma semana antes, dois aviões de passageiros russos tinham caído, devido a ataques terroristas reivindicados por um grupo islâmico tchetcheno; um jornalista italiano fora raptado e liquidado no Iraque; e, na data em que escrevo, ignora-se ainda o destino dos jornalistas franceses também raptados no Iraque
Winston S. Churchill costumava dizer que uma distinção do Império britânico residia na segurança que o Governo de Sua Majestade garantia aos súbditos – onde quer que se encontrassem. Quem se atrevesse a tocar num súbdito britânico, em qualquer parte do mundo, sabia que o longo braço da Armada Real cairia sobre ele. Essa era a melhor garantia de paz – e alguma decência – num mundo por natureza instável.
O contraste entre essa época e a actual dispensa comentários. Alguém falou em declínio do Ocidente? Os noticiários vão apressar-se a explicar: só se foi “o Bush” e a “extrema-direita americana”. Vamos lá voltar à colocação dos professores e ao “barco do aborto”. E não perca, já a seguir, a nova edição do «Big Brother» - com sexo em directo.»
DECLÍNIO DO OCIDENTE?
«No regresso de férias, um tema inevitável é a algazarra acerca da chamada “colocação dos professores”. O espectáculo é totalmente absurdo, porque o próprio tema é absurdo. As escolas – cada escola – deviam tratar da contratação dos seus próprios professores. O sistema centralizado que temos – talvez inspirado no “modelo soviético” – só pode produzir os resultados que todos os anos se repetem. Com medo dos sindicatos e da comunicação social, todos os governos mantêm o sistema. É muito edificante.
Outra telenovela curiosa é a do chamado “barco do aborto”. Os noticiários não falam de outra coisa. Na TSF, um repórter, que visitou o barquinho, dizia que «apesar das dificuldades, o ânimo é elevado». Não duvido. Uma mulher da tripulação até dizia “we are having fun”.
Apetece perguntar, como Zita Seabra no «Público» de domingo passado, por que não vão “to have fun” para a Argélia, ou a Arábia Saudita, ou o Irão, ou outros países islâmicos, onde as mulheres são obrigadas a casar com maridos que não conhecem, ou condenadas à morte por apedrejamento, acusadas de adultério?
Não, isso o “barco do aborto” não faz. Porque isso seria fundamentalismo cristão: impor aos militantes islamitas, explorados e oprimidos pela globalização e o capitalismo, os padrões ocidentais. Isso é o que fazem “o Bush” e “a extrema-direita americana”, como não se cansam de repetir os noticiários. É deliciosa esta reminiscência do PREC, em que todos os que não eram pela “revolução” eram “fascistas”. E lá marcham eles, com o cão, o gato e o periquito, contra “o Bush”. Desde o saudoso Ronald Reagan, nenhum outro Presidente americano tinha o privilégio de reunir tanta tropa fandanga contra si.
Entretanto, só no dia de quarta-feira passada, os jornais noticiavam: 12 reféns nepaleses assassinados no Iraque por um grupo islâmico; 16 civis israelitas mortos e 90 feridos em dois autocarros atacados por “kamikazes” palestinianos; 8 civis moscovitas mortos e 25 feridos por “kamikazes” tchetchenos, numa estação de Metro do centro de Moscovo; e mais de 100 crianças reféns também por terroristas tchetchenos. Uma semana antes, dois aviões de passageiros russos tinham caído, devido a ataques terroristas reivindicados por um grupo islâmico tchetcheno; um jornalista italiano fora raptado e liquidado no Iraque; e, na data em que escrevo, ignora-se ainda o destino dos jornalistas franceses também raptados no Iraque
Winston S. Churchill costumava dizer que uma distinção do Império britânico residia na segurança que o Governo de Sua Majestade garantia aos súbditos – onde quer que se encontrassem. Quem se atrevesse a tocar num súbdito britânico, em qualquer parte do mundo, sabia que o longo braço da Armada Real cairia sobre ele. Essa era a melhor garantia de paz – e alguma decência – num mundo por natureza instável.
O contraste entre essa época e a actual dispensa comentários. Alguém falou em declínio do Ocidente? Os noticiários vão apressar-se a explicar: só se foi “o Bush” e a “extrema-direita americana”. Vamos lá voltar à colocação dos professores e ao “barco do aborto”. E não perca, já a seguir, a nova edição do «Big Brother» - com sexo em directo.»
Nunca é de mais celebrar
«Franz Ferdinand's self-titled debut album won the prestigious prize for UK or Irish album of the year on Tuesday.» (BBC News)
Há uma semana atrás os FRANZ FERDINAND ganhavam o Mercury Prize. Os rockers escoceses - admiradores de Roxy Music que orgulhosamente desprezam a indústria da música pop (quanta rebeldia... quanta atitude... quanta pose...) -, estão já a trabalhar num segundo disco. Boa!
Há uma semana atrás os FRANZ FERDINAND ganhavam o Mercury Prize. Os rockers escoceses - admiradores de Roxy Music que orgulhosamente desprezam a indústria da música pop (quanta rebeldia... quanta atitude... quanta pose...) -, estão já a trabalhar num segundo disco. Boa!
terça-feira, setembro 14, 2004
Projecto Paulo Francis (Letra E)
ESQUERDA: Quando li há muitos anos o ensaio de George Orwell “Dentro da baleia”, em que ele diz que o esquerdismo da classe média, muito aceso na década de 30, se deveu mais a desemprego desta mesma classe do que à Grande Depressão (se bem que uma coisa está ligada à outra), fiquei perplexo e um tanto irritado. Mas, como direi, hoje vejo as coisas sob a mesma ótica. (Folha de São Paulo, 30/4/89)
Beauty (obrigado pelos ouvidos privilegiados!!)
Quem conseguir escutar o «Lady in my life», de Michael Jackson («Thriller»), no «The fact is (I need you)», de JILL SCOTT (do novíssimo «Beautifully Human: words and sounds vol.2») pode considerar-se possuidor de um par de ouvidos privilegiados. Coisa de grande importância quando se trata da mais nobre “géniologia” da música afro-americana. De toda a música.
segunda-feira, setembro 13, 2004
Tivesse eu escrito um postal musical das ilhas...
Dois discos de música brasileira preencheram em particular o lazer caseiro das minhas férias. Discos que ofereci porque aprendi a relacionar a música com todos os momentos da minha vida, e que escutei nunca nas condições ideais mas com total disponibilidade. Discos de ADRIANA “Partimpim” Calcanhotto e DJAVAN, os últimos de cada músico. O de ADRIANA foi mais surpreendente. Não tenho qualquer dúvida em afirmar que é o seu melhor registo porque para mim, de longe, o mais contagiante: punha reticências em relação à voz de ADRIANA até conhecer esta sua nova identidade recheada na totalidade de deliciosos covers. O seu lado Partimpim é irresistível, é ligeiro, é muito gostoso e feito de uma musicalidade imensa (palavras + sons) obtida com o menor aparato. Pela primeira vez consigo ouvir Calcanhotto do princípio ao fim sem sentir enjoo. Imaginem só, logo num disco tão doce!
Ouvir o novo «Vaidade» de DJAVAN é também um prazer enorme embora o factor surpresa – depois de «Milagreiro» - fosse dificilmente superável. Gosto muito da inflexão erudita e ao mesmo tempo bucólica que a música do alagoês mostra nos tempos mais recentes. Um DJAVAN sofisticado é comigo mesmo. As reminiscências do balanço funk que foi determinante para a penetração da sua música no circuito norte-americano mantêm-se, mas este novo DJAVAN (cada vez mais) maduro vai-se progressivamente desligando da cena fusionista para alinhar pelos requintes de compositor e letrista de um Edu Lobo, de um Chico Buarque e até mesmo de um Tom Jobim. «Vaidade» dá para convencer o seu público “pipoca” e também seduz a plateia “cabeça”. Disco feito em casa, com a família, com tempo, muito bom disco mesmo.
Ouvir o novo «Vaidade» de DJAVAN é também um prazer enorme embora o factor surpresa – depois de «Milagreiro» - fosse dificilmente superável. Gosto muito da inflexão erudita e ao mesmo tempo bucólica que a música do alagoês mostra nos tempos mais recentes. Um DJAVAN sofisticado é comigo mesmo. As reminiscências do balanço funk que foi determinante para a penetração da sua música no circuito norte-americano mantêm-se, mas este novo DJAVAN (cada vez mais) maduro vai-se progressivamente desligando da cena fusionista para alinhar pelos requintes de compositor e letrista de um Edu Lobo, de um Chico Buarque e até mesmo de um Tom Jobim. «Vaidade» dá para convencer o seu público “pipoca” e também seduz a plateia “cabeça”. Disco feito em casa, com a família, com tempo, muito bom disco mesmo.
... acontece
"Ética é estar à altura daquilo que nos acontece." (Gilles Deleuze)
Esta é talvez a frase que mais me tem acompanhado desde que pela primeira vez a li na estação de Metro do Parque. Mas poucas vezes antes fez tanto sentido como hoje.
... acontece.
Esta é talvez a frase que mais me tem acompanhado desde que pela primeira vez a li na estação de Metro do Parque. Mas poucas vezes antes fez tanto sentido como hoje.
... acontece.
the days of our lives/ I would never/ broken loves
Três músicas simples e melancólicas do presente «High» chegam para fazer recordar que os BLUE NILE são o grupo pop pelo qual todos os outros deviam ser nivelados. Acabariam muitos abaixo da fasquia mas... é a vida.