«Escrevi um artigo sobre o guru de Lula, Marco Aurélio Garcia. Ele não gostou. Mandou uma cartinha reclamando que devo estar sem assunto para ter dedicado uma coluna inteira a alguém desimportante como ele. É verdade: sempre falta assunto. Tanto que, no passado, já tratei até da esteira rolante do Aeroporto de Cumbica. Marco Aurélio Garcia não é menos importante que a esteira rolante do Aeroporto de Cumbica. Além disso, eu também sou pouca coisa. Conforme a definição do próprio Marco Aurélio Garcia, não passo de uma versão farsesca de Paulo Francis. Um pseudo-Paulo Francis. Um arremedo de Paulo Francis. Estamos todos ao mesmo nível, portanto: eu, Marco Aurélio Garcia e a esteira rolante de Cumbica.
Marco Aurélio Garcia não aceita ser chamado de “guru de Lula”. Acusa-me de ser preconceituoso. Ele acha que eu acho que “um simples metalúrgico não pode ter sozinho uma visão aprofundada da realidade brasileira”. Engana-se. Para mim, a falta de visão de Lula independe de sua origem. Ele demonstraria a mesma falta de visão se fosse um banqueiro. E não vejo nada de errado em ter um guru. Paulo Francis foi meu guru. Se Lula tivesse um bom guru, sem dúvida seria muito menos nefasto para o país.
Marco Aurélio Garcia apelidou-me de “Ezra Pound tupiniquim”. Suponho que ele não me atribua o talento literário do poeta americano. O termo “tupiniquim”, portanto, é usado de forma pejorativa. Significa pobre, de araque, de terceira categoria. Concordo com ele. O Brasil é mesmo o fim da picada. Por isso não reclamo apenas de Lula, mas de todos os políticos que já tivemos, dos primeiros caciques tupiniquins em diante. Recuso-me a ser como Marco Aurélio Garcia, que declara nostalgia pela política económica do regime militar. O mesmo regime militar que o prendeu, condenou e obrigou ao exílio. É a velha síndrome de Estocolmo, que sempre acomete os petistas.
Além de guru de Lula, Marco Aurélio Garcia também é secretário da Cultura de São Paulo. Sua principal iniciativa foi abrir bibliotecas em canteiros de obras, a fim de que os peões pudessem ler Tolstoi antes de cair de seus andaimes, espatifando-se no chão. Marco Aurélio Garcia afirma que essas bibliotecas permitem conhecer “eternas promessas da nossa literatura”, referindo-se ironicamente a mim. Bobagem. Se os peões não lerem os meus livros, não estarão perdendo nada.
Marco Aurélio Garcia começa sua cartinha de maneira humilde, julgando-se desimportante, “um pobre marquês”, mas logo muda de ideia, não me reconhecendo estatura moral para julgá-lo. Esses petistas são esquisitos. Em menos de cinco minutos vão di vitimismo pauperista ao delírio de onipotência. Por causa de meu artigo, ele ameaçou me processar. Se levar adiante a ameaça, provavelmente serei julgado durante a presidência Lula, com Marco Aurélio Garcia num cargo de prestígio. Como sou muito covarde, acho que será melhor não colocar mais os pés no Brasil.»
Diogo Mainardi in “A Tapas e Pontapés” – Crônicas, págs. 27/29.
N.D. Isto é o que ele escreve quando tem “falta de assunto”.