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sábado, dezembro 31, 2005

2005 ainda...

DOIS DANADOS

Duas Criaturas Malditas, desvairadas, em lágrimas, execradas por toda a gente, encontraram-se numa charneca atingida por um raio, à luz da lua, meio velada pelas nuvens.
- Desejo-lhe um Feliz Natal - augurou a primeira, numa voz que fazia lembrar o cântico dos túmulos.
- E eu desejo-lhe um Feliz Ano Novo - respondeu a Segunda, num tom de acordeão lamuriento.
Após o que se abraçaram, vertendo rios de escaldantes lágrimas nas costas uma da outra, tão vivo era o desgosto de ambas por se verem expulsas do Reino da Inefável Mistificação.
Porque uma delas era o Um de Janeiro, e a outra o Vinte e Cinco de Dezembro.

[Ambrose Bierce, Fábulas Fantásticas (Estampa, 2001 2ª ed.)]

Do blogue como alma exterior



(...) Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas...
- Duas?
- Nada menos de duas almas. Cada criatura traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro... Espantem-se à vontade; podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objecto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a perda da existência inteira. (...)

[Machado de Assis, O Espelho..., Um Homem Célebre - antologia de contos (Cotovia) pág. 20]

Olhando para 2006 ontem



Há os outros comediantes e depois, "somewhere over the rainbow", há Larry David. A terceira série não podia ter começado de melhor forma. É assim que eu vejo!

Não vos deixeis cair noutro "tentação"



Confesso: fui ver O Crime do Padre Amaro por causa desta menina e a mesma menina tem, de facto, e ao contrário do filme, tudo no seu sítio (tudo tudo não sei, pois nem tudo é revelado ao olhar guloso do espectador - a esse nível Joaquim Leitão fora mais generoso ao mostrar-nos Cristina Câmara todinha no Tentação, objecto igualmente de má memória.
Mas agora este "crime" é tão mais pífio, tão mal enjorcado, tão tosco no seu modo de filmar e montar aos encontrões, que não chega a eriçar o mais destemido pêlo. Vão por mim: a coisa mal cumpre os parâmetros televisivos, quanto mais poder ser chamada de cinema. (2/10)

DVD's: melhores 2005



1) The Office (segunda série + especial Natal);
2) Nip/Tuck (primeira série);
3) A Louca Vida de Larry [David] (primeira série);
4) Ed Motta em DVD;
5) Keith Jarrett, The Art of Improvisation;
6) Integral José Álvaro Morais (O Bobo, Peixe Lua, Quaresma, outros...);
7) Clássicos de Cinema, Michael Powell (Os Sapatos Vermelhos, Quando os Sinos Dobram, A Vida do Coronel Blimp);
8) O Fantasma, João Pedro Rodrigues;
9) Testemunhos de Guerra, Errol Morris;
10) Silverado, Lawrence Kasdan (Edição Especial).

Nota: a edição de Bob Dylan - No Direction Home consta da minha lista de melhores filmes do ano.

Tudo sobre ponteiros



Que dividem o tempo e multiplicam a música.

sexta-feira, dezembro 30, 2005

Goodbye, Cruel World (págs. 15/ 25)

(...) In modern welfare states, the struggle for subsistence has been abolished. In Africa, where I have also worked, the poor engage in a cruelly demanding battle to obtain water, food, firewood, and shelter for the day, even in the cities. This battle gives meaning to their existence, and another day lived without hungry in, say Kinshasa, is a personal triumph of a kind. Survival there is an achievement and grounds for celebration.
This is not so in my city, in wich subsistence is more or less assured, irrespective of conduct. On the other hand, there are large numbers of people who are devoid of either ambition or interests. They thus have nothing to fear and nothing to hope, and if they work at all it is in jobs that provide little stimulus. Without religious belief to imbue their existence with transcendental meaning from without, they can provide none for themselves from within.
What, then, is left for them? Entertainment, absorbed passively, informs them, through television and films, of a materially more abundant and more glamorous way of life and thus feeds resentment. A sense of their own nothingness and failure breeds powerful emotions - especially jealousy and the intense desire to dominate or possess someone else in order to feel in control of at least one aspect of life. It is a world in wich men dominate women to inflate their egos, and women want children "so that I can have something of my own" or "someone to love and who'll love me."
Personal relationships in this world are purely instrumental in meeting the need of the moment. They are fleeting and kaleidoscopic, though correspondingly intense. After all, no obligations or pressures - financial, legal, social, or ethical - keep people together. The only cement for personal relationships is the need and desire of the moment, and nothing is stronger but more fickle than need and desire unshackled by obligation. (...)

Theodore Dalrymple, Life at the Bottom

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Blogger do ano



Esta é fácil.

Cronista do ano



Esta dá luta.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Gilles Jobin



Desde que assisti no pequeno auditório do CCB a uma coreografia de Gilles Jobin - creio que terá sido Braindance - onde os bailarinos cedo se despiam por completo, onde a música hipnótica de Franz Treichler (Young Gods) acompanhava o movimento em câmara-lenta dos corpos escassamente iluminados, que decidi procurar tudo o que por cá pudesse ver do criador helvético. Jobin regressará no início de Janeiro (6 e 7), desta vez ao palco da Culturgest, para a apresentação de Steak House, a sua mais recente coreografia. As notas de produção não são elucidativas (são até, como convém, um pouco pretensiosas), mas estou-me nas tintas para as notas de produção. Ansioso que estou para reencontrar a linguagem mais vestida ou mais nua de Jobin, falada por corpos que mais ainda que outros corpos, noutras danças, se expõem - mesmo quando provocadores - de forma francamente tocante.

Jazz: melhores 2005


Ken Vandermark (Free Fall)

1) Free Fall, Amsterdam Funk (Ananana)
2) Jacques Coursil, Minimal Brass (Tzadik, Flur)
3) Keith Jarrett, Radiance (ECM, Dargil)
4) Branford Marsalis 4tet, Eternal (Marsalis Music)
5) Bernardo Sassetti Trio2, Ascent (Clean Feed, Trem Azul)
6) Renée Fleming, Haunted Heart (Decca, Universal)
7) William Parker, Luc's Lantern (Thirsty Ear, Trem Azul)
8) Dave Douglas, Mountain Passages (Greenleaf, Dwitza)
9) Joe Lovano, Joyous Encounter (Blue Note, EMI)
10) Enrico Rava, Tati (ECM, Dargil)

Esta é a segunda lista de jazz que faço este ano. A primeira, de 15 títulos, foi entregue seguindo ordem puramente alfabética para a próxima edição da revista Jazz.PT. As listas são semelhantes: outra coisa não seria de esperar. E vincam o carácter mais tradicional das minhas preferências - sempre livres, um pouco previsíveis, mas com algumas surpresas. Uma lista assumida do primeiro ao décimo título. 2005 foi ano de muito bom jazz. O jazz é, por excelência, a música mais espiritual de todas. A espiritualidade é aquilo que procuro no jazz - uma qualquer transcendência -, uma impressão disso mesmo.

Tudo sobre ser-se Homem



I keep a close watch on this heart of mine/ I keep my eyes wide open all the time/ I keep the ends out for the tie that binds/ Because you're mine, I walk the line

terça-feira, dezembro 27, 2005

Impulso de vida, impulso de morte

Escapar por muito pouco de ser atropelado. Procurar o mesmo sítio para atravessar no regresso.

The Knife Went In (págs. 5/ 14)



(...) Man has always had the capacity for the deceit of others and for self-deception, of course. It was Nietzche who famously observed that pride and self-regard have no difficulty in overcoming memory; and every psychic defense mechanism known to the modern phychologist makes it's appearence somewhere in Shakespeare. Yet one's impression nonetheless is that the ease with which people discard responsability for what they have done - their intellectual and emotional dishonesty about their own actions - has increased greatly in the last few decades.
Why should this occur just when, objectively speaking, freedom and opportunity for the individual have never been greater?
In the first place, there is now a much enlarged constituency for liberal views: the legions of helpers and carers, social workers and therapists, whose incomes and careers depend crucially on the supposed incapacity of large numbers of people to fend for themselves or behave reasonably. Without the supposed powerlessness of drug addicts, burglars, and others in the face of their own undesirable inclinations, there would be nothing for the professional redeemers to do. They have a vested interest in psychopathology, and their entire therapeutic worldview of the patient as the passive, helpless victim of illness legitimizes the very behaviour from which they are to redeem him. Indeed, the tangible advantages to the wrongdoer of appearing helpless are now so great that he needs but little encouragment to do so.
In the second place, there has been a widespread dissemination of psychotherapeutic concepts, in however garbled or misinterpreted a form. The concepts have become the currency even of the uneducated. Thus the idea has become entrenched that if one does not know or understand the unconscious motives for one's acts, one is not truly responsible for them. This, of course, applies only to those acts which someone regards as undesirable: no one puzzles over his own meritoriousness. But since there is no single ultimate explanation of anything, one can always claim ignorance of one's own motives. Here is a perpetual getout.
Third, there has been a widespread acceptance of sociological determinism, especially by the guilt-laden middle classes. Statistical association has been taken indiscriminately as proving causation: thus if criminal behavior is more common among the poorer classes, it must be poverty that causes crime.
Nobody, of course, experiences himself as sociologically determined - certainly not the sociologist. And few of the liberals who espouse such a viewpoint recognize its profoundly dehumanizing consequences. If poverty is the cause of crime, burglars do not decide to break into houses any more than amoebae decide to move a pseudopod towards a particle of food. They are automata - and presumably should be treated as such.
Here the subliminal influence of Marxist philosophy surfaces: the notion that it is not the consciousness of men that determines their being but, on the contrary, their social being that determines their consciousness. If this were so, men would still live in caves; but it has just enough plausibility to shake the confidence of the middle classes that crime is a moral problem, not just a problem of morale. (...)

Theodore Dalrymple, Life at the Bottom (Ivan R. Dee, Chicago, 2001)

Bis ou o Blitz que temos (preto no branco)


Craig Armstrong em preto e branco

"O casal Vladislav Delay + Antye Greie junta-se a Craig David" lê-se em sobressalto (!) numa das entradas da secção de crítica de discos do Blitz hoje. O CD em causa chama-se The Dolls (7/10) e o susto repete-se no interior do texto, quando se lê "... o tempero jazz, sendo aí que entra Craig David. O piano deste suaviza a conversa conjugal de Delay e Greie...". Saber que ele e ela são casados e não parar sequer para ler o que vem na capa do disco já é suficientemente grave. Mas então o Blitz não terá um revisor de texto (liguem-me!) e o mesmo revisor perceberá alguma coisa de música? O Blitz que está em vias de ser promovido à condição de suplemento pago à parte do Expresso, aos sábados, devia preocupar-se com lapsos nada acidentais como este.

Laughing backwards

Directamente do último episódio da 2ª época de Curb your enthusiasm para o episódio-piloto de Seinfeld: "we're honking our horns to serve you better."

Tudo sobre trios



Ou o admirável mundo dos clarinetes que Ken Vandermark domina com cada vez maior propriedade. (para o Abel Barros Baptista)

segunda-feira, dezembro 26, 2005

O que é semi-formalidade?


Drew Gress, John Hollenbeck (ao colo), Matt Moran, Ted Reichman, Chris Speed são The Claudia Quintet

HF – Porquê o nome Claudia?
JH – Eu tinha um grupo com um acordeonista e um baixista, tocávamos todas as segundas-feiras. Ao princípio, apareceu uma rapariga muito entusiasmada com a música e a dizer que viria todas as semanas, que traria os amigos, etc. Eu acreditei, mas ela nunca mais apareceu. O nome dela era Claudia... decidi chamar o grupo de Claudia Quintet, é como uma piada, eu adoro os nomes de mulheres, já existe muito macho-man no jazz e eu gosto muitas das qualidades femininas, e de as traduzir em parte através do Claudia Quintet. O som do grupo é muito soft, clarinete, vibrafone e acordeão, é sempre muito gracioso. (in Jazz e Arredores)

"Semi-serious music by musicians who only take themselves semi-seriously". Gosto muito (e não semi-muito) dos The Claudia Quintet mas tenho de ouvir melhor o novo disco, Semi-Formal, antes mesmo que este ano semi-acabe.

Talento de série V (vê)



Cada vez gosto mais deste disco (admito o não convencimento imediato). Realizando o seu trabalho musicalmente mais humilde mas nem tanto desde que em sábia hora emigrou para os Estados Unidos, Vinicius Cantuária mostra uma vez mais que a bossa pode ser tudo o que ele quiser. E o que quer da bossa Cantuária? Muito simplesmente deitar a modernidade dos improvisos numa cama de classicismo formal embrulhada na sobriedade dos mais belos sons: a guitarra friselleana de Cantuária (embora neste CD o fraseado esteja mais próximo de um Toninho Horta), o trompete hasselleano de Michael Leonhardt, o contraste entre o veludo das cordas e a ganga das percussões segundo o código Jobim e depois Morelenbaum, percorrendo ritmos de inspiração tropical e atlântica: eixo Rio, Mindelo, New York. Tudo muito doce, pronto a derreter (daí o ligeiro retoque na tabela dos melhores 2005 MPB). (8/10)

domingo, dezembro 25, 2005

Mother knows better (I says, she pays)



Melhor presente de Natal 2005: sem dúvida os livros de ensaios de Theodore Dalrymple, colunista que admirei desde o primeiro texto lido na Spectator: têm por título Life at the Bottom e Our Culture, What's Left of It. Não lidos (à excepção, talvez, de uma ou outra prosa) mas já por demais apreciados.

Música pop, rock, alternativa, folk, electrónica, ambiental no geral: melhores 2005



1) Harold Budd, Avalon Sutra;
2) June Tabor, At the Woods Heart;
3) Vincent Delerm, Kensington Square;
4) Smog, A River Ain't to Much to Love;
5) LCD Soundsystem, S/T;
6) Richard Thompson, Front Parlour Ballads;
7) Jon Hassell, Maarifa Street;
8) Micah P. Hinson and the Gospel of Progress, S/T;
9) Antony and the Johnsons, I Am a Bird Now;
10) Jens Lekman, When I Said I Wanted to Be Your Dog;
11) Arthur H., Adieu Tristesse;
12) Sufjian Stevens, Illinoise;
13) Colleen, The Golden Morning Breaks;
14) Gonzales, Solo Piano;
15) Richard Davis, Details;

[Ouvi (traduzo: comprei!) os Animal Collective, ouvi os Arcade Fire, escutei Flanger, não ouvi Madonna nem Devendra Banhart nem MIA - nem o segundo Franz Ferdinand by the way... - mas quanto a mim o único hype francamente justificado do ano (à parte de Antony) pertence a James Murphy e aos ritmos viciantes do LCD Soundsystem. A distância para a concorrência colocou a concorrência fora desta lista.]

Próximas tabelas: portuguesa, soul/ hip hop, clássica e jazz.

Tudo sobre cinefilia



Álbum de uma estreia magnífica a que o segundo disco deu merecida continuidade.

1º ACTO



"Elle est toujours toute noir et blanche
Elle ne dit plus Vivement Dimanche
Depuis que je la traîne chez mes parents
Tous les week-ends Fanny Ardant"

6º ACTO



"La question avez-vous déjà
Fait souffrir votre partenaire
A obtenu la réponse a
Je n'arrive pas trop à m'y faire"
(dueto com Irène Jacob)

10º ACTO



"Elle repense à ce film
Qui ce passe à Deuville
C'est un peu décevant
Deuville sans Trintignant"

Duas citações para o Natal (a boa e a má)



A Solitary Life (Richard Thompson)

Sometimes I long for the solitary life
Parents long gone, no kids, no wife
Sister somewhere in Australia
Never did keep in touch
Sex no more than a how-do-ye-do
With a copy of Penthouse in the loo
Socially a bit of a failure
Nice not to have to try too much

A Solitary Life
A life of small horizons
Dull as the pewter sky over North West Eleven

A serious hobby in the garden shed
Model trains, or soldiers in lead
Join the suburban boffins of Britain
Experts on trivial things
And holidays in the Yorkshire Dales
Or cycling tours of the North of Wales
Unenvious of those flea-bitten
On continental flings

A Solitary Life
A life of small horizons
Dull as the pewter sky over North West Eleven

Excitement comes by subtle means
The satisfaction of routines
Small revenges at the office
Smug little victories
You work on your pallor, complexion like paste
Like the grey defeat on an inmates face
A life spent adding losses and profits
Resigning by degrees

A Solitary Life
A life of small horizons
Dull as the pewter sky over North West Eleven

And come to the end, sad and alone
A steady reliable tumour you’ve grown
From selfish years, while all your peers
Have stressfully jogged to health
In life you always were quite numb
And foggier now, you soon succumb
In drab St. Barts on the new by-pass
Death overcomes by stealth

A Solitary Life
A life of small horizons
Dull as the pewter sky over North West Eleven




(...) Desejaria compartilhar contigo esta súbita mudança operada em mim. Começaria então a ter uma mais segura confiança na nossa amizade que nem a esperança, ou o medo, ou a busca da utilidade, pode quebrar, numa amizade daquelas com a qual, e pela qual, os homens podem morrer. Posso citar-te muitos que, embora tendo amigos, careceram de amizade: ora tal caso não pode dar-se quando uma igual vontade de só desejar o bem liga dois espíritos em comunhão. E como não ser assim, se eles sabem que tudo é comum entre ambos e principalmente a adversidade?

Cartas a Lucílio, Séneca, pág. 13

Convenções e storytelling



Se os natais continuam sempre iguais, os filmes de Natal já não são o que eram: saudades do Jack!

sábado, dezembro 24, 2005

Tudo sobre Monk



Marsalis Plays Monk: Standard Time, Vol.4

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Últimas compras (para mim)



E assim o comprador ora tenso ora descontraído não deixa que o ano termine sem que se dê o encontro com um dos seus escritores de canções de estante aos pés da cama. E por onde andava o grande e injustamente negligenciado Richard Thompson? Na loja MC do Picoas Plaza, where else?

MPB: melhores 2005


Vinicius Cantuária

1) Ed Motta, Aystelum (Trama);
2) Vinicius Cantuária, Silva (Hannibal);
3) Los Hermanos, 4 (Sony/ BMG);
4) Domenico + 2, Sincerily Hot (Luaka Bop);
5) Max de Castro, S/T (Trama).

Entre a primeira e a quinta escolha vai a distância que separa um talento de série A, Max de Castro, de um talento fora-de-série, Ed Motta. Para os outros três eleitos têm as restantes letras do alfabeto que são vinte e três.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Crime no Instituto



O diálogo teve lugar na livraria do Instituto Franco-Português.
Eu: "Boa tarde. Tem o último livro do Patrick Modiano da Gallimard, Un Pedigree?"
Ela (em francês): "Acho que já não tenho. Vou ver..."
Procura no computador...
Ela (em francês): "Ah, afinal tenho um... mas é encomenda de cliente."
Eu: "Se calhar desistiu?"
Ela pega no papel preso no livro.
Ela (em francês): "É, desistiu. Ligamos-lhe cinco vezes."
Eu: "Fui eu que o matei, para ficar com o livro. Mas se me denunciar eu nego tudo."
Ela (em francês): "São quinze euros e cinquenta."
Pago com a quantia exacta.
Ela (em português): "Quer um embrulho?"
Eu: "Não, é para mim."
Pego no livro e despeço-me: "Boa tarde e bom Natal."

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Ela um dia ainda há-de acordar assim...



Charlotte mais gato Varandas igual a Catwoman. Miau.

Tudo sobre cordas



Manuel Barrueco - Bach e de Visée

Natal dos hospitais


ADEUS (Rogério seria inevitavelmente o homem do jogo!)

A generosidade da equipa da casa (Sporting 3 Rio Ave 0) traduziu-se ainda assim num festival de golos perdidos.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Tudo sobre blues


Deitado

DEITADOS LADO A LADO, envoltos nas fadigas do dia.
Paisagem fresca e calma onde passam histórias irrealizáveis, o sono repousava sobre nós.
Nenhuma espada precisava de nos separar.
Um peso delicioso, pesando na minha perna, despertou-me.
Reconheci o teu pé.
Soube então, por um homem e uma mulher que se conhecem, o que era estar deitado lado a lado.

Ernesto Sampaio, Fernanda (Fenda), pág. 37

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Tudo sobre jazz


Cinema: melhores 2005



1) Million Dollar Baby, de Clint Eastwood;
2) No Direction Home, de Martin Scorsese;
3) Um Peixe Fora de Água, de Wes Anderson;
4) Last Days, de Gus van Sant;
5) Broken Flowers, de Jim Jarmusch;
6) Saraband, de Ingmar Bergman;
7) A Cara que Mereces, de Miguel Gomes;
8) Os Tempos que Mudam, de André Téchiné;
9) Sideways, de Alexander Payne;
10) Grizzly Man, de Werner Herzog.

Comentário: tal como em anos anteriores houve filmes bons, filmes assim-assim e filmes maus. Filmes bons, poucos; filmes assim-assim, bastantes; filmes maus, demasiados. E uma só obra-prima: a do costume do realizador do costume.

Doidos e amantes (conclusão)


sábado, dezembro 17, 2005

L.A. Story



Do mesmo modo que alguns homens apreciam uma mulher que não vai para a cama no primeiro encontro, também eu não gosto que um filme que se pretende sensível e poético me dê tudo da primeira vez que o vejo. É o que sucede com Shopgirl, Uma rapariga cheia de sonhos, de Anand Tucker. E num diálogo apenas o filme expõe a razão da sua fraqueza. Quando Ray (Steve Martin) pergunta a Mirabelle (Claire Danes) se acha a casa dele "to done", isto é, "pretensiosa". Shopgirl é precisamente um filme "to done" com o sinfonismo insuflado da sua música, com a ressonância cósmica demonstrativa da história de amor - cheia de planos aéreos de Los Angeles à noite e raccords com os pontos iluminados no céu -, com o narcisismo magoado da narração de Steve Martin que adaptou para o cinema uma novela de sua autoria. Martin não é um estreante e já havia escrito, por exemplo, os argumentos de Roxanne (Fred Schepisi, 1987) e L.A. Story (Mick Jackson, 1991) que com Shopgirl partilham um sentido comum da melancolia que rima existências anónimas com a moldura flurescente da mítica cidade dos anjos. Shopgirl é um pouco narcísico e pretensioso e dá-se todo da primeira vez, mas a sua sensibilidade e o seu romantismo também justificam ser valorizados. (6/10)

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Rico considera o fracasso do pai

O pai está sentado a ler o jornal. O pai vê o noticiário.
O rosto mortificado como o de um professor desiludido: condena, critica
o estado do mundo, cujos disparates ultrapassam
todos os limites. É tempo de tomar medidas. Está decidido
a reagir firmemente.

A firmeza do meu pai é vã. É a firmeza de um pobre homem.
Gasta, fraca, impotente. Em contrapartida há nele um ar de tristeza,
de resignação: já não é muito jovem. Um simples cidadão. De que vale
com o seu fraco bordão. E às vezes o meu pai cita o versículo:
como as centelhas se elevam às alturas*, o homem nasceu para a miséria.
Mas o que é que ele quer dizer com aquilo? Que me eleve às alturas?
Que arranje trabalho? Que não me meta em guerras perdidas?
A severidade do meu pai. Os seus ombros derrotados.
Por causa deles me fui. A eles voltarei.

* Job, 5,7. «É o homem que gera a miséria, como o voo das águias busca a altura.» (N. da T.)

Amoz Oz, O Mesmo Mar (Asa), pág. 70

Chamem-lhe Pedro


Odete: o futuro da mulher é o homem

É sempre boa sensação sair da sala de cinema onde acabámos de ver um filme diferente, imaginando que connosco trouxémos a chave de leitura do mesmo. Odete, de João Pedro Rodrigues, é então sobre quê? Para mim tudo se clarificou com o derradeiro plano quando Odete (Ana Cristina Oliveira) pede a Rui que a trate pelo nome do namorado deste (Pedro), falecido de início. Odete, na minha opinião, é sobre o facto daquilo que acreditamos que somos ser mais determinante do que a forma como os outros nos vêem. A história de Odete - por vezes no domínio da irracionalidade - é a história da usurpação de uma identidade que pode ser apenas histérica ou talvez não. Uma vez que o filme de João Pedro Rodrigues se move num contexto onde predomina o imaginário gay - que já pontuava aliás as anteriores realizações do autor (neste caso com uma ou outra irrelevância como a "escusada" cena da sauna) - esta problematização adquire outra importância. E o fantástico (d'O Fantasma) também passa de novo por aqui - numa figuração mais exacerbada e mórbida, própria da idade e do romantismo desajustado dos protagonistas -, assim como uma sensibilidade rara no cinema português para a plasticidade dos corpos, espaços e outras superfícies de que se constitui essa arte de nos fazer acreditar no que "não existe" que é o cinema. (6.5/10)

Estreia a 29/12

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Escapismo de primeira



"A man's got to know his limitations" (Harry Callahan/ John Milius/ Henry David Thoreau)

Directamente do baú de quando o cinema popular era (muito) bom.

D'O País das Maravilhas (ou Vasco Pulido Valente como talvez nunca tenham lido)



AS OPORTUNIDADES PERDIDAS

Desde que percebi que podia ser rico, nunca mais me soube bem ser pobre. Deviam tomar-se precauções públicas para que a resignação de cada um não fosse desnecessariamente perturbada. Mas não. Hoje não se entra em casa burguesa que não se seja sujeito à contemplação artística e financeira da pintura local. Isto de inquietar as pessoas já de si está mal. O pior, porém, é que nada daquilo custou nunca nada. O Manta veio na herança; o Sá Nogueira ficou por cinco contos em 58; o Jorge Martins deu o desenho e a gravura; o Nikias foi trocado por um disco; o Escada pago com uma sopa de cebola nos Halles, nos bons tempos.
Eu andava mais ou menos adaptado à ideia de que um andar na Lapa, um faqueiro de prata e um Porsche preto eram coisas claramente além do meu poder de compra. Pensava na revolução social, na social-democracia e na sorte grande: não pensava em competir. Agora, descubro de repente que no ramo «pintura» só não faço inveja às pessoas e concorro dignamente com directores de banco, por minha culpa. Por pura moleza e falta de iniciativa.
É verdade que tudo começou a ser mal orientado pelos meus antepassados, que foram pessoas de pouco préstimo. Tivesse eu escolhido os meus avós e os meus pais e eu lhes garanto que não chegava ao que cheguei. Mas, enfim, sempre eram contemporâneos do Columbano, do Sousa Cardoso, do Manta. Infelizmente não me veio daí grande bem. Não sei onde essas criaturas gastaram o dinheiro. Comprar pintura é que não compraram. Ainda por cima, sob o pretexto ridículo de que gostavam deles, davam-se com médicos e com músicos: mesmo o tipo de pessoas que não rende nada.
Com esta péssima educação, não admira que eu próprio governasse a vida com uma indecente incúria. Fui quinze anos amigo do João Cutileiro e nem uma pedra me atirou. Quando vi a Menez, fiquei tão embasbacado que nem me lembrei de lhe pedir um desenho. O António Mendes passava as férias ao pé de mim e eu achava que não devia misturar-me com miúdos. Quando o Escada morria à fome em Paris, não o conhecia: agora, que o conheço, o desgraçado come o que quer.
A minha vida tem sido assim: uma tragédia de oportunidades perdidas. Mas aprendi. Ultimamente mudei muito. Não vejo por aí pintor, escultor ou gravador que não me ponha logo de gatas, todo simpático e prestável. Levo os meninos à escola, trato do contrato do gás, meto gasolina no carro. Considero isto um investimento a longo prazo. E, por outro lado, organizei-me. Peço a opinião dos peritos e monto ficheiros de jovens exploráveis. Perdi muito tempo; tenho imenso a recuperar. Uma coisa é certa: daqui a uns anos, quando as minhas duas assoalhadas de seis contos à Penha de França já forem uma pechincha, a minha colecção há-de ser igual à de toda a gente que se preza. E de graça.

de O Cinéfilo


Nota: dedico esta primeira transcrição ao amigo Nuno, da livraria Alexandria, para quem não há livros impossíveis de encontrar: no caso, O País das Maravilhas (1979, Editorial Intervenção)

Bye bye blackape


King Kong 2005

Parte fantasia romântica juvenil em enorme escala (como Titanic), parte filme de acção vertiginosa (como Jurassic Park), o King Kong de Peter Jackson tem impresso a cada plano a concretização de um sonho. O filme é gigante como o macaco e a primeira hora - até à chegada à ilha de Skull - é bem chatinha. Depois King Kong compensa com um corropio de sequências de acção de deixar Spielberg roído de inveja (reconhecendo embora a maior subtileza de Steven e mais força bruta visual em Peter) e de deixar também, quem sofra de vertigens como eu, agarrado à cadeira que Jackson faz subir ao topo do Empire State Building com requintes picados e panorâmicos. Acontece que o lado juvenil deste King Kong - à semelhança do que já sucedia na trilogia do Anel - deixa-me entre a indiferença e o constrangimento: impressionantes, e muito, só mesmo os efeitos visuais. Até quando me esforço por sorrir não sabendo como encarar frases como a que Jack (Adrien Brody) profere para um taxista após Kong ter espalhado o pânico na cidade: "- Taxi! (entra e senta-se) Follow that ape!". Depois dos "salteadores", "dinossauros" e toda a gama de super-heróis convertida em blockbuster, não consigo ver o novo King Kong a não ser como espectáculo disparatado ou disparate espectacular. (5.5/10)

terça-feira, dezembro 13, 2005

Celestial



Como diria o João César se cá estivesse "é celestial."

A VGM tem.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

AVISO: este filme pode fazer de si fã de Dylan!



Bob Dylan é um homem que sempre levou a música mais a sério do que a ele mesmo. Isso torna-se evidente neste extraordinário filme de Martin Scorsese, um objecto que se vê/ lê e a que se regressa tal como num livro. A sua invulgar duração - cerca de 200 minutos - pode fazer-nos inclusive repassar momentos vistos anteriormente para recordar um comentário, uma intervenção ou uma das muitas prestações musicais de grande inspiração e não só de Dylan. A inteligência da abordagem de Scorsese distingue-se pelo facto de o objecto se fazer de uma falsa cronologia que vai tomando forma pela agregação de um conjunto impressionante de depoimentos (falta cá alguém?) e de imagens de um arquivo riquíssimo brilhantemente colocadas umas em relação às outras. A entrevista com o Dylan actual e o registo da actuação do mítico concerto no Royal Albert Hall, em 1966, altura em que os fãs se indignavam face à dupla natureza folk/ rock da música de Bob são os elementos principais de No Direction Home, um objecto que à semelhança dos melhores documentários não oferece respostas, optando antes por procurar ser fiel à natureza de um artista que o acaso tornou num génio, à falta de outra explicação que nem os que mais de perto com ele conviveram conseguem dar. (9/10)

Deste não viver aqui

«Para se viver no presente, e para que esse presente contenha alguns germes de futuro, é preciso esquecer. Não digo perder a memória, mas seleccioná-la, distanciá-la, acomodá-la à necessidade que todos temos de saborear o presente, de manter indemnes as possibilidades de novos começos. Mas quando a memória nos cai em cima como um dilúvio, quando o passado nos submerge e afoga, estamos perdidos. Sobrevivemos entre sombras, somos almas penadas, entregues ao desespero e à cólera. Vivemos no inferno, pois inferno é a ausência de quem amamos.»

Ernesto Sampaio, Fernanda, Fenda, pág. 22

O tigre e o dragão


O jovem Bob Dylan


Paulo Furtado (The Legendery Tiger Man)

Quem és tu?

O que para oferecer compra Mar Adentro e que para si leva O Polícia Sem Lei.

sábado, dezembro 10, 2005

Domadores às feras

«Murray [Bill Murray] é mais directo (e menos politicamente correcto) quando fala das actrizes - e da abilidade de Jarmusch em domá-las. "Bom, ele [Jarmusch] fuma cigarros, o que dá jeito. Quer dizer que quando não temos a certeza do que vai acontecer numa cena, é boa altura para o Jim parar e fumar um cigarro, e assim temos a oportunidade de relaxar e de nos recompormos. Acho que a combinação de fumar cigarros e de ter aquele cabelo que ele tem acalma as actrizes e faz com que elas se sintam mais à vontade do que se estivessem na presença de James Coburn ou Lee Marvin. E isso ajuda, porque elas deixam de estar em cima de mim. Tivemos algumas actrizes bastante fortes neste filme. Não creio que o Siegfried tivesse entrado na jaula dos tigres sem o Roy [Siegfried & Roy, dupla de ilusionistas dos "shows" de Las Vegas] e foi isso que senti quando estava a fazer este filme [Broken Flowers, Flores Partidas] - não creio que tivesse podido enfrentar todas aquelas actrizes se não fosse Jim."»

[e assim Jim Jarmusch floresceu, Helen Barlow, Público, 9 Dez. 05]

Bolas

Desde que tenho Sport TV o Chelsea anda desinspirado. Sempre que não vou a Alvalade o Sporting perde. Bolas!

Português, chefe de família

Quem cozinha em sua casa?
A minha mulher e as minhas filhas. Eu retribuo comendo bem.

[Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional de Pais em inquérito ao Expresso 10 Dez. 05]

sexta-feira, dezembro 09, 2005

A verdade profunda do Deep House



Ir à procura de letras memoráveis num disco de house já é pedir demais. Mas depois isto: "I've loved you every single day/ Since you got me away from there/ And sometimes when I'm down I see/ All the things that might have been/ No, I won't think about the years gone by/ 'Cos I've got you and that's the truth" (The Truth)

Dentro do género já desisti de procurar embora por vezes venha ao meu encontro - ali, precisamente na intersecção do Herbert "old school" com as vozes e os ritmos do seu amigo Charles "Presence" Webster - tenho de reconhecer que este ano poucos CD's me deram um prazer de escuta tão imediato como este: deitado no quarto e sempre a abanar o pé. (8/10)

Nota: a Flur tem.

Partidas, largadas, fugidas



Existem apenas três tipos de mulheres (maduras) no novo Jarmusch: aquelas a quem Don Johnston (Bill Murray) quebrou o coração de vez há vinte anos atrás (Dora/ Frances Conroy); as que tendo sido largadas por ele procuraram acreditar de novo no amor - sem sucesso!? - (Lora/ Sharon Stone e Carmen/ Jessica Lange); por último as que o abandonaram antes que ele lhes fizesse o mesmo (Penny/ Tilda Swinton e, no presente, Sherry/ Julie Delpy). O resto são lolitas que mostram o corpo de modo displicente, música etíope dos baús da década de 70 e um caso raro de absoluta adequação do registo minimal e lacónico de um extraordinário actor (Bill Murray) com a planificação zen e o ritmo igualmente desacelerado de um originalíssimo autor (Jim Jarmusch). Flores Partidas é um belo filme coming of old age, triste, mas com um tímido sorriso amarelo. Ou será rosa? (8/10)

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Grizzly men



Uma Vida Inacabada,Un Unfinished Life parece um filme de Robert Redford - tem muitas semelhanças, aliás, com o seu Encantador de Cavalos (sendo que aqui o animal a "domar" é um enorme urso selvagem que atacara o melhor amigo de Einar Gilkyson. O filme é protagonizado por Redford (Einar) e tem ainda Morgan Freeman. Gosto muito dos dois, também neste filme. O cast principal completa-se com Jennifer Lopez num personagem o mais distante que ela já fez da JLo que entretanto virou marca (roupa, perfume, que mais). Há finalmente uma adolescente que ao contrário do que sucedida no Encantador de Cavalos será responsável pelo enternecimento do coração empedernido do avô, o cowboy Einar, o cowboy Redford.
Recordemos que Robert Redford tem procurado em anos recentes renovar a sua imagem cinematográfica com uma aproximação à imagem de Clint Eastwood. O Encantador de Cavalos foi nesse sentido as suas Pontes de Madison County. Já Uma Vida Inacabada, realizado por Lasse Hallström, quase se vê como se fosse Redford que estivesse atrás da câmera. Mas mais longe de Eastwood, sendo os seus méritos igualmente menores. Sobretudo Hallström não resiste a perder-se por intrigas episódicas que visam apenas o acentuar do heroísmo serôdio do protagonista: aquele que no fim devolve o grande urso à natureza; aquele também que devolve o namorado violento da nora à terrinha donde este nunca deveria ter saído.
Pena (peninha) que o que nos grandes mestres passa por uma ligeireza de tom que rima com um olhar desencantado sobre o nosso mundo, não passe neste filminho simpático de uma utopia que não vai além do universo do cinema e sua mitologia. Se Redford nunca será Eastwood, Lasse Hallström sê-lo-á muito menos.

Classificação: (5.5/10)

Herói sem causa



Num terreno e em condições climatéricas impróprias até para heróis da bola, Vítor Baía mostrou de novo, ontem, para quem ainda tivesse dúvidas, que é o melhor guarda-redes português.

Kleist com enfeites na cabeça



E o mais recente link vai para A Mulher do Aviador, o Alexandre Andrade que mais me interessa.

O eterno surpreendido

Ainda não descobri nada que actue tão de imediato sobre a autoestima como uma aula puxada de yôga.

Farsola



Este filme de João Botelho, que ontem antestreou, assemelha-se a um compósito Oliveira (talvez da Viagem ao Princípio do Mundo junto com O Princípio da Incerteza) mas onde se dizem muitos palavrões - vá lá, nem são tantos como isso, mas comparado com o cinema de Manoel de Oliveira... O Fatalista é uma farsa. Se era para ter piada, não tem. Se era para nos pôr a pensar, não põe. Se era para prestar serviço cultural digno à obra de Diderot, presumo (não li), não presta. Nele só o trabalho do Botelho artista gráfico aplicado resiste. (4/10)


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