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terça-feira, maio 09, 2006
Caixão à cova

«The younger, Lonny, stepped up to the grave first. But once he’d taken a clod of dirt in his hand, his entire body began to tremble and quake, and it looked as though he were on the edge of violently regurgitating. He was overcome with a feeling for his father that wasn’t antagonism but that his antagonism denied him the means to release.» (pág. 13)
Celebrar os vivos


Excelente e longa entrevista (duas páginas, um verdadeiro luxo) de João Lisboa a David Berman, na última Actual/ Expresso, acompanhada de crónica da primeira actuação da banda fora dos Estados Unidos. Berman fala da música que gosta, do pai que o detesta (o sentimento é mútuo), da poesia que tão cedo não voltará a editar e do rabino que o ajuda na busca de sentido para a vida. Berman persegue no fundo tudo aquilo que qualquer um de nós deseja. E nos tempos livres vai gravando grandes discos (não é Eduardo?). Quanto a João Lisboa, só me ocorre acrescentar que é o único tipo que lamento que não tenha aderido ainda à blogosfera. Mas, por outro lado, essa atitude é completamente Lisboa.
Última página

Multiplicai-vos e contribuí por Manuel António Pina
Francisco José Viegas tem vindo a travar na Net e no JN um combate solitário contra a intenção do Governo de aumentar os descontos para a Segurança Social dos casais sem filhos e baixar os das famílias numerosas. O objectivo é incentivar os portugueses a terem mais filhos, para que, no futuro, haja mais "contribuintes". Gosto de combates solitários e quase tenho pudor de me pôr ao lado de Francisco José Viegas neste. Mas, que os economistas da Segurança Social me perdoem, não consigo ver os meus filhos como "contribuintes", e parece-me imoral esse olhar usurário sobre as nossas crianças à espera que cresçam e comecem a "descontar". Baixar (ou eliminar) os descontos das famílias numerosas, como das pouco numerosas, parece-me justo tratando-se de famílias sem recursos. Mas baixá-los só por serem numerosas e aumentar os das pequenas famílias independentemente dos recursos que tenham lembra-me de mais o "Admirável Mundo Novo" para não me assustar. Assim sendo, porque não, como na inquietante utopia de Huxley, criar (a medicina reprodutiva já o permite) linhas de produção em série de futuros "contribuintes"? Talvez até programando o seu ADN para que morram mal deixem de "contribuir" e se tornem um "peso" para a Segurança Social.
(no JN, todos os dias)
segunda-feira, maio 08, 2006
Não te absolvo

Maria Madalena (Mary) de Abel Ferrara faz-me recordar certo trabalho de um ex-companheiro de bancos da Escola de Cinema (anos 90) que não estando contente com os resultados da sua proposta para a cadeira de imagem, desatou a rasurar as fotografias que constituíam aquela pequena ficção com o intuito, quiçá, de lhe atribuir um cunho artístico que se sobrepusesse aos méritos da narrativa. Assim parece ser o que se passa com este Mary de Ferrara: montagem atabalhoada de um conjunto de situações (Eurico de Barros referiu no DN, com o humor que se lhe reconhece, que era a tentativa de um trolha pintar um fresco) mais ou menos especulativas e com look pagão em torno da fé, da religião, da liberdade de expressão e das fraquezas humanas. Excepção feita a um conjunto de cenas de passagem que fazem parte do método de Ferrara mais reconhecível e dos seus méritos para filmar a noite e a cidade de Nova Iorque, o resto é tosco, confuso e finalmente irrelevante. A palavra nunca foi o seu forte - mas que convenceu os italianos a darem-lhe a massa para fazer este filme, lá isso é verdade - facto que se nota em Mary como antes talvez só mesmo com The Addiction. (5/10)
Puxar para cima

Vamos pôr as coisas nestes termos. Missão: Impossível: 3 é como uma injecção de adrenalina cujo efeito se prolonga por 130 minutos (e com maior intensidade nos que sofram de vertigens…). As coisas decorrem eficazmente enquanto não há diálogos (projecto: fazer um M:I: qualquer no domínio exclusivo do movimento, sem uma palavra sequer). Quando eles se põem a falar reina a vulgaridade pipoqueira. Pior que isso só quererem-nos convencer de que a mulher do agente Ethan Hunt (Tom Cruise) poderia de repente tornar-se mais um elemento da força de elite: a grace under pressure com que aprende a manusear uma pistola automática é digna de registo. E é feita sem o mais pequeno pingo de sentido de humor (comparar com os exemplos Cameron e McTiernan). Pedir a Missão: Impossível: 3 para ter piada faz sentido; reclamar da falta de verosimilhança é que já descabido. (4/10)
Morreu a dormir

Grant McLennan (1958-2006)
McLennan morreu como nós todos gostaríamos de um dia vir a morrer. Mas morreu cedo. E viveu como tantos de nós gostaríamos de o fazer: ser um discreto escritor de canções de culto a viver na Austrália? Viveu, dizem que, apaixonadamente.
Talvez sejam poucas as imagens de Grant McLennan onde não apareça Robert Forster, a metade extrovertida dos Go-Betweens. Que daqui para a frente não voltará a haver Go-Betweens, disso tenho a certeza.
sexta-feira, maio 05, 2006
Não mais adiado
"- Listen, when are you going to move the gallery downtown?
- We don't want to get into that discussion, 'cause, you know, I think we should move and Lenny is a devoted Upper East Sider... Or shall I say is opposed to change in any form?"
"- Who's the boss between you and Mommy?
- What is the question?
- Who's the boss between you and Mommy?
- Who's the boss? You have to ask that! You don't know who the boss is?
- No.
- I'm the boss, okay? Mommy's only the decision maker."
"- What were some of the other filmes you were in?
- Well I did The Enchanted... Salad.
- The Enchanted Salad? What was that about? Was it good?
- Yeah, it was really good. It was about a waitress."
Adiado desde certa aula sobre Sófocles, foi um prazer rever Poderosa Afrodite. Um dos muito divertidos filmes de Woody Allen.
quinta-feira, maio 04, 2006
quarta-feira, maio 03, 2006
Dar a cara
Who Should Paint You: Andy Warhol |
Novo mundo, ideias velhas

Passaram cerca de sete anos sobre a estreia de A Barreira Invisível, The Thin Red Line mas tenho bem presente a gramática visual (luz natural, árvores, muitas árvores) e sonora (sons da natureza: vento, passarinhos) que Malick volta a aplicar nas mesmas situações da mesmíssima maneira. O cinema bio-etnográfico de grande escala do realizador norte-americano, apesar de bissexto, começa a soar a fórmula. Pior que isso só os monólogos interiores embasbacados do casal apaixonado: poesia new-age que não me permito aqui reproduzir sob pena de fazer caricatura da caricatura.
Mas a história de amor entre a bela e pura selvagem e o capitão descrente e ambicioso (interpretado pelo foleiro entre os foleiros, Colin Farrell) é apenas parte do projecto de Terrence Malick em The New World, O Novo Mundo (a parte Filhos de um Deus Menor meets Danças com Lobos), sendo a outra metade constituída pelo seu discurso recorrente acerca da violentação exercida pelo homem "civilizado" sobre o mundo original (o "novo mundo") onde em tempos já viveu em completa harmonia com a natureza. Malick é partidário da regressão ao éden (cada um com a sua utopia) e por mim podia lá ficar uns largos tempos até que lhe surjam ideias novas.
Classificação: (3/10)
terça-feira, maio 02, 2006
Eureka
Na ressaca do Indie, uma daquelas experiências de cinema cada vez mais raras: Eureka. 210 minutos de duração (e de dura acção para quem assistir aos longos e muito gerais planos deste filme no DVD), realizado pelo mesmo Shinji Ayoama de Elie, Elie, Lema Sabachtani? - enorme ponto de interrogação ou de exclamação na edição 2006 do festival. Viagem interior mas também geográfica, junta três vítimas do mesmo acontecimento traumático na busca de apaziguamento para as suas pulsões de morte. Eureka é a palavra que Aoyama foi buscar a uma canção de Jim O'Rourke para significar a entrada numa possível reparação: com a própria existência e com o mundo. Os personagens atravessam do estado de quase autismo até à condição de sobreviventes. São os instantes derradeiros desta grande aventura traduzida para um scope imaculado. Vale a pena persistir.
Classificação: (8/10)
Jogos de azar
O elixir da eterna juventude
Desejo e morte (últimas visitas ao IndieLisboa 2006)
Longing, Desejo é a primeira longa-metragem da realizadora Valeska Grisebach (n. 1968). Decorre no meio rural, próximo daquele que víramos documentado em Recursos Humanos de Laurent Cantet (sendo este francês e ela alemã). O olhar de Grisebach está entre a cineasta e a documentarista: como se não resistisse a fazer cinema e a trazer outras leituras à sua história simples de uma tragédia anónima: um operário dividido entre duas mulheres, história antiga como o Aurora de Murnau. Desempenhada por não-actores, numa concepção de quase "modelos", quase bressonianos. (In)expressivos e ternos como animais mas, ao contrário destes, debatendo-se com o desejo e os seus efeitos colaterais. (6/10)
The Death of Mr. Lazarescu do romeno Cristi Puiu (n. 1967) foi o melhor filme que vi no Indie. Seis horas da longa viagem pela noite dentro levada a cabo pelo senhor Lazarescu do título (espécie de sósia do nosso Luiz Pacheco) em duas horas e meia de filme. Com a carcaça sempre em movimento. Puiu realiza o pior pesadelo de um hipocondríaco: o que tem necessariamente de ser mau revela-se ainda pior. A partir de certa altura - a saída de ambulância de hospital em hospital - vive-se numa espécie de versão em absurdo do ER, Serviço de Urgência. Doentes, médicos, auxiliares revelam-se perante a câmara "oculta" de Cristi Puiu. Humor implacável. Noite de riso (nervoso também). Noite de cinismo. Uma noite como tantas outras. (8/10)
Pensar sobre trabalho e felicidade
Daqui resulta uma inversão do sentido de privilegiado. Historicamente, o privilégio é excepcional; dele usufrui uma categoria restrita. Os grandes de Espanha ganharam o privilégio de não tirar o chapéu em frente aos reis. Eram vinte e cinco famílias. A isso é que se chamava, outrora, privilegiado. Hoje, chama-se privilegiado a uma estudante que não pague o custo total do seu curso ou a alguém que tenha emprego, e este mero facto é a ilustração grotesca de quão baixo e mesquinho descemos na Europa, no período de apenas uma geração.
A continuar assim, serão "privilegiados" todos aqueles que não estiverem a morrer de febre hemorrágica em África.
Mas curiosamente, nunca são estes que trazem o tema do privilégio para a praça pública. Os desempregados não atacam o privilégio de se ter um emprego; querem apenas conquistá-lo. Mas um banqueiro como Fernando Ulrich, que tem poucas oportunidades de ficar desempregado, sugere que se liberalize o despedimento em Portugal - a benefício, supostamente, dos desempregados. Folheando as secções de economia dos jornais, facilmente encontramos senhores (e mais raramente senhoras) que podem determinar o valor das suas pensões ou aumentar-se legalmente a si mesmos, mas que acusam o cidadão comum de, com os seus privilégios, colocar em risco a sobrevivência de Portugal.
(...) Ao contrário daquilo que nos dizem os nossos instintos mais mesquinhos, se Fulano perde o emprego seguro para eu continuar desempregado, ou se Sicrano perde as férias para eu continuar a não ter nenhumas, isso não me aquece nem me arrefece. Antes de avançar, é preciso demonstrar claramente os benefícios gerais da medida.
É essa demonstração que, tantas vezes, se perde pelos caminhos da política. Se continuarmos a chamar privilégios a coisas como estudar ou ter um emprego, que uma parte grande da população partilha e de que toda a sociedade beneficia, esquecemo-nos de verdadeiros privilégios que fariam a inveja dos Grandes de Espanha. Ora, como dizia o padre António Vieira, se é preciso muito peixe miúdo para alimentar um peixe grande, somente um peixe grande bastaria para alimentar muitos pequenos.
(Rui Tavares, Socorro: somos todos privilegiados, Público, 29/04/06)
P - Como viu a recente revolta dos jovens franceses contra o novo Código do Trabalho?
R - Vi-a como um movimento conservador, não reaccionário, mas conservador, cujo objectivo era conservar o Código do Trabalho, que é muito rígido e torna muito difícil fazer despedimentos. Não concordo com despedimentos, mas na economia mundial para podermos contratar temos também que despedir. Esse movimento dos jovens não é um movimento revolucionário nem inovador. Como penso que os ingleses, os alemães, os dinamarqueses não são idiotas, e todos eles aceitam a ideia de que para se contratar tem de se fazer despedimentos, não vejo porque é que em França se luta por leis conservadoras. O resultado é que temos um desemprego muito elevado e com este movimento vamos continuar a ter. Acho isso dramático.
P - Costuma dizer-se que os jovens são indiferentes, alienados, mas neste caso mostraram capacidade de reacção. Não é positivo?
R - Não é mau reagir, mas nem sempre é bom dizer "não". Há coisas às quais devemos dizer "sim". Dizer "não" à Europa não me parece bem, acho mesmo desastroso. Revela um estado de espírito arcaico e no limite também um pouco xenófobo. Ser irrealista não é necessariamente bom. Isto não é muito fácil de dizer, os intelectuais do meu país apoiam a 90 por cento este movimento. Mas não me interessa, digo-o porque é o que eu penso. Sei que quando tinha 20 anos não pensava assim. E se hoje o digo é porque sou mais velho, tenho mais experiência, e ter mais experiência é ser mais ponderado, mas também mais prudente, mais conservador. Não digo que tenho razão, digo aquilo em que acredito. Espanta-me que a segurança seja uma ambição para os jovens. Não penso que seja um sonho de um rapaz ou de uma rapariga de 20 anos lutar para ter segurança no trabalho. Nessa idade somos um pouco mais aventureiros, temos mais o gosto do risco. Em 68 éramos loucos, e hoje não subscrevo as ideias que defendíamos na altura, mas não o fazíamos pela segurança ou para ter uma vida tranquila. Corríamos riscos.
(Olivier Rolin entrevistado por Alexandra Prado Coelho, Mil Folhas, Público, 29/04/06)
Em que é que ficamos? Ficamos no acto de pensar que já não é pouco (não sendo embora um privilégio).
Sou suspeito
O motivo pelo qual hesitei em pronunciar-me sobre o vai-e-vem Bénard da Costa/ Ministério da Cultura prende-se com o facto de no passado, e em inúmeras ocasiões, ter eu pelas vias próprias manifestado interesse em trabalhar nas áreas de programação ou de relações públicas da Cinemateca, recebendo invariavelmente a mesma resposta: nenhuma. E de ter suspeitado existir na figura do seu director o mais terrível obstáculo: aquele que nos bate pela indiferença; aquele que até os mais próximos receiam (ou desistiram de) “importunar”. Ainda que com os méritos observáveis da sua programação (regular, sólida, embora coxa de modernidade), a Cinemateca não deixa de ser uma instituição parada na pessoa de João Bénard da Costa. Com o qual aliás nos confunde.